Política

Relatório do MPE aponta gastos ilícitos na campanha de Cláudio Castro

Uma mulher teria, por exemplo, recebido 2,5 milhões de reais do fundo eleitoral sem ter trabalhado para a campanha do bolsonarista

Folha secreta. O relator do processo no TRE do Rio aponta o chefe do Executivo como mandante do esquema na Ceperj – Imagem: Rafa Neddermeyer/ABR
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O Ministério Público Eleitoral (MPE) opinou pela rejeição da prestação de contas realizadas pela campanha do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), de 2022. O relatório produzido pelo órgão revelou gastos ilícitos durante a campanha que resultou na reeleição do bolsonarista.

Conforme citado pelo canal de TV GloboNews, que teve acesso ao documento, uma mulher de 65 anos teria recebido mais de 2,5 milhões de reais do fundo eleitoral sem jamais ter trabalhado pela campanha do atual governador.

Lúcia Helena Siqueira Lopes de Jesus, aponta o relatório, tornou-se sócia e administradora da empresa Cinqloc Empreendimentos pouco antes das eleições de 2022. A empresa, então, assinou um contrato milionário com a campanha do bolsonarista para recrutar e selecionar cabos eleitorais, coordenadores, motoristas e outros funcionários.

Ela, porém, diz que nunca trabalhou para o político. Aos 65 anos de idade, Lúcia jamais teve um registro de trabalho assinado em sua carteira antes de, supostamente, se tornar sócia da empresa contratada por Castro. Localizada pelo canal de TV, ela reconheceu vínculo com a empresa, mas disse não saber dos negócios. Ela apontou a nora como a operadora.

A nora, Evandreza Henrique da Silva, por sua vez, foi candidata nas últimas eleições ao cargo de deputada estadual, mas não se elegeu. Ela era sócio da empresa até abril de 2022 e é casada com um homem citado no esquema de pagamentos ilegais de Castro na Ceperj. Ao canal, ela também nega ter participado da campanha de Castro e diz desconhecer qualquer transação em seu nome. A alegação é de que se afastou do comando da Cinqloc para fazer sua própria campanha.

Conforme os documentos apresentados pela campanha de Castro, apenas no período eleitoral foram gastos 5 milhões de reais com cabos eleitorais e outros funcionários contratados pela Cinqloc. Desses, pelo menos 2,5 milhões teriam sido direcionados a Lúcia.

Em razão da suspeita, a Justiça Eleitoral determinou, em janeiro de 2023, a quebra de sigilo fiscal de seis empresas contratadas pela campanha do bolsonarista. Ao todo, as contratadas receberam 10 milhões de reais do fundo eleitoral.

Um relatório sobre a quebra de sigilo bancário revelou pelo menos 14 transferências entre a Cinqloc e Lúcia Helena Siqueira Lopes de Jesus, somando os cerca de 2,5 milhões de reais mencionados.

A Cinqloc ainda repassou 2,6 milhões de reais a outra empresa, associada a Rafael Thompson, ex-secretário de governo de Castro, e Mauro Farias, atual secretário estadual de Transformação Digital. Eles dizem não serem sócios da empresa desde 2017.

Há, ainda, movimentações em um pix registrado com o e-mail de Evandreza.

No final de 2022, a Procuradoria Eleitoral já havia acusado o governador e seu vice, Thiago Pampolha, de gastos ilícitos na campanha. Naquela ocasião, o órgão solicitou a cassação da chapa vencedora por irregularidades nos pagamentos e falta de capacidade operacional das empresas contratadas.

Castro nega todas as acusações reveladas nesta terça-feira e afirma confiar na Justiça Eleitoral. Pampolha alega ter entrado na chapa apenas na reta final e que, portanto, não teria participado de qualquer esquema.

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