Sem acordo, Congresso adia votação de proposta com novas regras sobre o orçamento secreto

Uma das explicações é o julgamento em andamento no STF sobre a constitucionalidade das emendas de relator

O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL). Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Apoie Siga-nos no

A falta de acordo impediu a votação, nesta quinta-feira 15, de um projeto de resolução que estabeleceria novas regras para o pagamento das emendas de relator, chamadas de orçamento secreto. Agora, a tendência é de que a matéria só vá a votação na próxima terça 20.

Uma das explicações para o adiamento é o julgamento em andamento no Supremo Tribunal Federal sobre a constitucionalidade dessas emendas. Parlamentares preferiram aguardar a conclusão da análise pela Corte.

Na quarta 14, horas antes de o STF iniciar o julgamento, o presidente do Congresso Nacional, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), defendeu uma proposta do Legislativo que estabeleceria novos critérios para executar as emendas.

O argumento de Pacheco é que a nova redação manteria o poder do Executivo sobre os recursos, porque o Palácio do Planalto teria a palavra final.

Segundo o senador, o pagamento das emendas de relator observaria o critério da proporcionalidade das Mesas da Câmara e do Senado, da Comissão de Orçamento e das bancadas partidárias em cada Casa.

Ele reforçou que essas emendas não são impositivas e que “sua execução passa pelo crivo do Poder Executivo, que preservará sua discricionariedade na condução do cumprimento da lei orçamentária”.


O projeto, assinado também pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), determina limites para os parlamentares indicarem as emendas de relator, previstas em 19,4 bilhões de reais em 2023. Pelas regras, 80% do valor será distribuído proporcionalmente, de acordo com quantos representantes um partido elegeu em outubro, e caberá ao líder da legenda fazer a divisão interna, definindo quanto cada parlamentar poderá indicar.

A proposta reserva ainda uma fatia menor, de 7,5%, que o presidente do Senado decidirá para onde enviar, além de outros 7,5% para o presidente da Câmara. A prerrogativa de indicação dos 5% restantes ficaria com o relator-geral do Orçamento e com o presidente da Comissão Mista de Orçamento do Congresso.

O orçamento secreto se tornou uma espécie de moeda de troca entre o governo federal e o Congresso, já que as emendas de relator não precisam ser distribuídas de forma igualitária entre os parlamentares. Assim, o Planalto contempla deputados e senadores aliados com verbas além daquelas a que eles têm direito. O mecanismo foi utilizado por Jair Bolsonaro (PL) para angariar apoio em votações importantes, em uma prática que ficou conhecida no meio político como “toma lá, dá cá”.

Leia também

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

 

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.