Política

“Só trafico drogas”, diz Zezé Perrella em áudio. Senador diz ter sido irônico

Em grampo, Aécio Neves cobra apoio de Perrella, que diz ter atacado políticos da “lista de Fachin” para se defender de críticas envolvendo caso do helicóptero

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Uma conversa gravada pela Polícia Federal no âmbito da Operação Patmos, que investigou as relações do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e do presidente Michel Temer (PMDB) com Joesley Batista, dono da JBS e delator, colocou o senador Zezé Perrella (PMDB-MG) em uma situação complicada. No diálogo, Perrella leva uma bronca de Aécio por declarações feitas em uma entrevista e, em determinado momento, diz, em tom de aparente brincadeira: “Eu não faço nada de errado, eu só trafico drogas”.

A conversa telefônica entre Perrella e Aécio ocorreu em 13 de abril, dois dias depois de o ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, retirar o sigilo das delações da Odebrecht.

No diálogo, autorizado pela Justiça, Aécio cobra Zezé Perrella por declarações feitas por este à Rádio Itatiaia, de Minas Gerais, nas quais Perrella se postou como “limpo” em meio à “lama de denúncias”. Aécio não só constava na lista de Fachin como foi o político campeão de inquéritos. O tom da conversa é amistoso, mas de cobrança.

“Acho que não preciso provar o quanto sou seu amigo na vida, né cara. Então vou te falar como amigo, com a liberdade de amigo. Poucas vezes vi uma declaração tão escrota, Zezé, como essa que você deu na rádio Itatiaia”, disse Aécio.

Na sequência, o tucano lembra Perrella que eles pertencem ao mesmo grupo político e diz que tiveram as campanhas financiadas da mesma forma. “Como é que você acha que você chegou ao Senado? Sua campanha foi financiada do mesmo jeito que a minha, e corretamente”, diz Aécio.

“Você jogou todo mundo na lama, você me julgou, nos igualou ao campo do PT, dos picaretas todos, como se você tivesse sido eleito, Zezé, por uma ação divina, ou financiado pela semente lá sua, ou pela quentinha do Alvimar. Pô, a nossa campanha foi a mesma, Zezé”, afirma Aécio.

A “semente” de Perrella é uma referência à Limeira Agropecuária, empresa pertencente ao filho do senador, o ex-deputado estadual Gustavo Perrella. A “quentinha do Alvimar” é uma referência à Stillus Alimentação, empresa do irmão de Zezé, Alvimar Perrella, que em 2012 foi denunciada pelo Ministério Público por envolvimento em desvios milionários de verba na venda de merenda escolar e comidas para presos.

A bronca de Aécio veio acompanhada de recomendações sobre como um integrante do grupo político deveria agira. Era hora de “ter solidariedade”, diz Aécio, e de “separar o joio do trigo”. “Estão misturando doação de campanha com essa roubalheira que fizeram no Brasil”, afirma o tucano.

Ao tentar se defender, Zezé Perrella diz a Aécio que fez os comentários sobre a lista da Odebrecht para rebater as acusações que sofre por conta do episódio que entrou para o folclore político brasileiro com o apelido de “helicoca”. “Qual a maneira que eu encontrei de rebater… Essas coisas que eles falam de mim do helicóptero até hoje”, disse Perrella na conversa com Aécio.

Em 2013, um helicóptero pertencente à Limeira Agropecuária, de Gustavo Perrella, foi flagrado pela Polícia Federal com 445 kg de cocaína. O piloto da aeronave, que era funcionário do gabinete de Gustavo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, foi preso em flagrante, junto com outras três pessoas. A Limeira Agropecuária foi inocentada pela PF, mas o dano político permaneceu.

O grampo que captou a conversa entre Aécio e Zezé Perrella foi divulgado no sábado 27 pelo site Poder 360, mas não se tratava da íntegra da conversa. Esta só chegou ao público na segunda-feira 29, por meio de reportagem do jornal Hoje em Dia.

Pressionado por conta da entrevista que concedeu, Perrella insiste na tese de que tentava se defender do caso “helicoca”. “Na verdade eu sou muito agredido pelo negócio do helicóptero até hoje, sabe Aécio, eu não faço nada de errado, eu só trafico drogas”, diz. Aécio dá risada, mas continua com a bronca.

Em nota enviada a CartaCapital por meio de sua assessoria de imprensa, o senador Zezé Perrella indicou que o comentário na conversa com Aécio teria sido uma ironia.

“Basta ouvir o áudio na íntegra. Durante o diálogo, o senador Zezé Perrella menciona o episódio do helicóptero, dentro de um contexto, se referindo ao fato de que, mesmo após ter sido comprovada sua inocência, lamentavelmente, a imprensa ainda insiste em associar o seu nome ao caso”, afirma a nota. “Seu incômodo, explícito no áudio, é justamente pela forma criminosa e caluniosa que abordam este assunto e que ele luta, ainda, contra seus detratores”, diz.

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