Política
Subprocurador quer força-tarefa para investigar despesas de Michelle Bolsonaro
Áudios obtidos pela PF apontam que gastos da ex-primeira-dama eram pagos em dinheiro vivo
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O subprocurador-geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, Lucas Rocha Furtado, pedirá à Corte a formação de uma força-tarefa com Polícia Federal e Controladoria-Geral da União para investigar despesas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro pagas em dinheiro vivo.
A PF interceptou diálogos mantidos entre o tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens da Presidência, e assessoras do governo de Jair Bolsonaro a respeito de uma orientação para bancar gastos de Michelle em espécie. As conversas foram reveladas neste sábado 13 pelo UOL.
O material atesta a preocupação de Cid com a possibilidade de a prática ficar caracterizada como uma rachadinha. Ele menciona, inclusive, o caso do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
De acordo com um relatório de análise da PF divulgado pelo veículo, os diálogos revelam a existência de uma “dinâmica sobre os depósitos em dinheiro para as contas de terceiros e a orientação de não deixar registros e impossibilidades de transferências“.
Ao veículo, Rocha Furtado afirmou que “fica evidente que há uma tentativa de fugir à fiscalização”.
“Pagamentos em espécie são usados por parte de quem quer fraudar”, prosseguiu o subprocurador. “Todavia, antes de qualquer sanção, deve ser assegurado o contraditório.”
Conforme a investigação, Michelle utilizava um cartão de crédito vinculado à conta da amiga Rosimary Cardoso, à época assessora parlamentar no Senado. A PF identificou depósitos em dinheiro vivo na conta de “Rosi” para custear as despesas com o cartão.
As conversas demonstram o receio de duas assessoras da então primeira-dama, Cintia Borba Nogueira e Giselle dos Santos Carneiro da Silva. As duas tentaram convencer Michelle a interromper o uso do cartão da amiga, sem sucesso.
Diante do relato de Giselle, Mauro Cid admitiu estar preocupado com o modelo dos gastos. Ele ressaltou que Michelle possuía comprovantes de pagamento das despesas, mas não contava com documentos a provarem que os recursos teriam saído de sua conta bancária ou da conta de Jair Bolsonaro.
“Giselle, mas ainda não é o ideal isso não, tá? O Cordeiro conversou com ela, tá, também. E ela ficou com a pulga atrás da orelha mesmo: tá, é? É. É a mesma coisa do Flávio. O problema não é quando! É como deputado, rachadinha, essas coisas“, disse Cid em áudio enviado à assessora, conforme transcrição da PF.
O tenente-coronel reforçou o temor em um segundo áudio dirigido a Giselle: “Se ela perguntar pra você ou falar alguma coisa ou comentar, é importante ressaltar com ela que é o comprovante que ela tem. É um comprovante de depósito, é comprovante de pagamento. Não é um comprovante dela pagando nem do presidente pagando. Entendeu?”
Segundo Cid, “o Ministério Público, quando pegar isso aí, vai fazer a mesma coisa que fez com o Flávio, vai dizer que tem uma assessora de um senador aliado do presidente, que está dando rachadinha, tá dando a parte do dinheiro para Michelle”.
Os áudios revelados pelo UOL apontam que era vedado o pagamento com transferências bancárias. O método, portanto, se baseava em pagar as contas em dinheiro vivo, o que desperta suspeitas na PF.
A prática fica clara em um áudio enviado a Giselle por Osmar Crivellatti, militar subordinado a Mauro Cid na Ajudância de Ordens: “Giselle, bom dia! É, é esse, esse pagamento, o coronel tinha passado para a gente, mas eu acho que esse banco digital a gente não consegue fazer pagamento. E transferência nós não podemos fazer. Então vê o que que nós podemos fazer. Se entregamos o dinheiro para vocês. Ou se você tem alguma outra conta, Banco do Brasil, alguma coisa que a gente possa fazer o depósito, tá bom, Giselle? Bom dia aí, obrigado”.
Ao site, o advogado de Mauro Cid, Bernardo Fenelon, afirmou que “a defesa técnica, por respeito ao Supremo Tribunal Federal, se manifestará apenas nos autos do processo”. A defesa de Jair Bolsonaro declarou que não comentaria o assunto. Já a assessoria da ex-primeira-dama Michelle não respondeu.
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