Política

“Temer não tem mais a menor condição política de dirigir a República”

Deputado do PSOL vê “Diretas Já” como única alternativa. Um presidente tampão e eleito indiretamente, diz ele, “seria uma solução ilegítima”

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O bloco de apoio ao presidente Michel Temer está perdido, mas vai tentar encontrar um nome para substituí-lo por meio de eleições diretas. Essa é a conclusão do deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) em meio à crise deflagrada pelo vazamento da delação de Joesley Batista, um dos donos da JBS. Segundo informações do jornal O Globo, Temer foi gravado dando aval para a compra do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Em entrevista a CartaCapital, Chico Alencar avalia que o governo Temer já não existe mais e promete lutar para que sua substituição seja feita por meio de eleições diretas. “Só a cidadania tem o condão de começar a superar” a crise atual, diz.

CartaCapital: Como o senhor recebeu as notícias da noite de quarta-feira e da manhã desta quinta-feira?

Chico Alencar: Em primeiro lugar, o governo está moribundo. Temer não tem mais a menor condição política de dirigir a República. Se tivesse dignidade, ele sairia logo, mas imagino que deva ser grande o medo de trocar o Palácio do Jaburu pelo presídio de São José dos Pinhais. Talvez ele queira se agarrar mais um pouco ao foro privilegiado, mas politicamente não é mais presidente.

É preciso dizer que as defesas de Temer e Aécio parecem uma tentativa de criar um novo partido, o PCC, partido dos corruptos cínicos. Temer vai dizer que sua frase a Joesley se referia a uma ajuda humanitária a Eduardo Cunha. E o Aécio admite que conversou, mas que queria ajudar um amigo em outro processo. Essa versão é fragilizada pelo próprio pedido de prisão feito pela PGR.

CC: Recentemente o senhor fez uma autocrítica após um encontro amistoso com o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Agora há um pedido de prisão contra ele. Como vê as acusações contra ele?

CA: O Aécio sempre foi uma figura que aparentava ter algumas convicções sociais-democratas, liberais e até compromissos de transparência com a ordem democrática. Agora isso se revelou, de maneira definitiva, como um grande embuste. Está na lista dos canalhas da vida pública desse País. Há aqui na Câmara pessoas do PSDB querendo que ele saia imediatamente da presidência do partido e, eventualmente, do próprio partido. Ele me enganou por muito tempo, mas agora não mais.

CC: A Constituição prevê eleições indiretas em caso de vacância na Presidência. Como o senhor avalia essa saída?

CA: Vejo com olhar muito negativo essa possibilidade. Em uma situação de crise como a que estamos, só a cidadania tem o condão de começar a superá-la, através do voto direto. Aqui no PSOL, nem se o papa Francisco fosse candidato – e ele não aceitaria – nós votaríamos nele. Uma eleição indireta só agrava a crise, só prolonga. Mas é bom lembrar que há controvérsias sobre a eleição indireta em caso de cassação de chapa no TSE. Para alguns, é possível que sejam convocadas eleições diretas. O mais simples é aprovar a PEC que prevê eleições diretas.

CC: E como estão as tratativas da PEC das Diretas Já?

CA: Estou aqui no Congresso, mas não houve quórum para abrir a sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Viemos só 19 deputados e eram necessários 34. Ainda assim, o presidente da comissão se comprometeu a colocar a PEC na pauta na terça-feira que vem.

CC: O senhor acha que o bloco hoje governista, que apoiou o impeachment, vai apoiar essa PEC?

CA: Esse bloco no momento está como um formigueiro que levou um pisão de um gigante. Está disperso, desarvorado. E não falo isso apenas com base em impressões. Recolhi desde ontem à noite as análises de muitos deputados da base aliada, do PMDB, do PSDB, do PPS, do PP… o que mais escuto é “A casa caiu. E agora, o que vamos fazer?”. Não dá para dizer que Temer está à beira do abismo. De maneira célere, ele começou a despencar.

CC: Há uma especulação no ar a respeito de Cármen Lúcia ser alçada à presidência da República, como uma espécie de eminência parda. Como o senhor vê isso?

CA: A ministra Cármen é muito bem relacionada, com o sistema, com o PIB e pode ser vista como uma solução “neutra”, e bote aspas nisso, que eles encontrem para manter o programa de ajuste e o arrocho contra a população. Por não ser da política partidária, pode existir entre eles um consenso de que é uma figura menos desgastada. Entendo que vão procurar um nome, como um Nelson Jobim da vida, para ser um tampão. Mas repito: será uma solução ilegítima diante do clamor popular.

CC: Além da pressão pela PEC, qual será a estratégia do PSOL?

CA: Vamos protocolar mais um pedido de impeachment e cobrar do Tribunal Superior Eleitoral, quando o presidente Gilmar Mendes voltar, que antecipe o julgamento da chapa. Vamos apoiar inclusive a cassação do Aécio, por meio de um consórcio com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), já que não temos senador no momento. Vamos também apoiar intensamente as mobilizações pelo “Fora, Temer”, pelas “Diretas, Já”, fazendo um clamor cidadão pela democracia. Temos de fazer a ponte entre a praça e esses palácios.

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