Trabalhadores dos Correios entram em greve por tempo indeterminado

Funcionários protestam por reajuste salarial e contra privatização; segundo juiz, empresa rejeitou mediação do Tribunal Superior do Trabalho

Correios (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

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Os funcionários dos Correios anunciaram greve geral por tempo indeterminado. O decreto ocorreu na noite de terça-feira 10. Os trabalhadores pedem reajuste salarial com reposição da inflação do período (3,25%) e querem barrar cortes de benefícios, como a retirada de pais e mães do plano de saúde.

Segundo a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect), todos os 36 sindicatos da categoria aderiram à greve. Em nota, a federação afirma que a direção dos Correios descumpriu o calendário de reuniões e adiou a apresentação do índice econômico para depois da data acordada com os trabalhadores, que seria no mês de agosto. Além disso, diz que a empresa não recebe os representantes dos trabalhadores há mais de 40 dias e se nega a negociar.

Os Correios afirmam que participaram de dez encontros com os representantes e que apresentaram a real situação econômica, que compreende, segundo a estatal, um prejuízo de 3 bilhões de reais. “Mas as federações, no entanto, expuseram propostas que superam até mesmo o faturamento anual da empresa, algo insustentável para o projeto de reequilíbrio financeiro em curso”, diz nota. A empresa opera sob o comando do general Floriano Peixoto, nomeado em junho pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Procurada por CartaCapital, a empresa não apresentou, até o fechamento desta matéria, estimativas em números sobre os impactos da greve nas atividades e quais providências devem ser tomadas para solucionar o problema. De acordo com a assessoria, os dados ainda estão em levantamento.

Empresa rejeitou mediação do TST, diz juiz

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) era mediador na negociação. Segundo o juiz Rogério Meira, auxiliar da vice-presidência do tribunal, os trabalhadores aceitaram suspender a greve, no entanto, a própria cúpula dos Correios rejeitou a mediação do tribunal, o que contribuiu para a deflagração da paralisação.


“O ministro vice-presidente [Renato de Lacerda Paiva] fez uma proposta para ambas as partes no sentido de ganharmos mais um mês para continuar conversando. Havia inclusive uma greve marcada para o dia 3 e, diante dessa proposta, a representação dos empregados e entidades sindicais se manifestaram no sentido de concordar e inclusive suspendendo mais uma vez a greve. Porém, infelizmente, a empresa não aceitou. Ou seja, a empresa, na prática, recusou a proposta da vice-presidência. Respeitando essa decisão, o ministro extinguiu essa mediação, tendo a clareza de que, se houvesse a aceitação, teríamos a perspectiva de evitar essa greve. Não sabemos o que vai acontecer, esse pedido de mediação foi extinto, lamentamos”, disse, em entrevista veiculada pela Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios (Findect).

Segundo as federações, a direção dos Correios e o governo Bolsonaro empurraram os funcionários à paralisação porque “têm interesse em usar a greve para desgastar a imagem dos trabalhadores”. Em nota, a Findect relaciona a estratégia à ameaça do governo em privatizar a estatal. “A direção da ECT e o governo querem reduzir radicalmente salários e benefícios para diminuir custos e privatizar os Correios”, escreve a instituição.

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