Êmy Virgínia de Oliveira Costa começou o ano com uma notícia desagradável: em 8 de janeiro, foi notificada sobre sua demissão do Instituto Federal do Ceará, onde leciona há oito anos. Sem acreditar no resultado do processo administrativo aberto em 2019, compartilhou a informação com colegas e alunos através de grupos no WhatsApp. A reação imediata foi de choque e consternação. No mesmo dia, estudantes organizaram um abaixo-assinado contra a demissão que, em menos de 24 horas, contava com mais de 400 assinaturas. “Bateu o desespero. Só conseguia pensar em como iria encontrar um novo emprego, como conseguiria me manter sem o salário. A recolocação no mercado de trabalho é sempre difícil, mas para uma pessoa transgênero é ainda mais.”
Primeira professora trans do IFCE, Êmy Virgínia acredita que a punição foi desproporcional, movida por transfobia e perseguição política. Aos 36 anos, ela é servidora pública desde os 18. Dedicou toda a vida adulta à sala de aula e afirma que em nenhum outro ambiente se sente tão confortável. “Nasci para lecionar, compartilhar o que sei, o que sempre estou aprendendo”. A universidade pública, mantida com recursos da União, acusa a docente de “inassiduidade habitual”. Segundo o processo administrativo, ela ausentou-se durante 78 dias intercalados, que resultaram na penalidade máxima aplicada contra um servidor, a demissão.
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