Política

Uma visita à Esalq-Show, na mais tradicional escola agrícola do país

O primeiro Esalq-Show não se pretendia Ribeirão Preto (SP), Esteio (RS) ou Cascavel (PR). Era coisa de estudantes, do futuro

A sede da Esalq foi doada por Luiz Vicente de Souza Queiroz ao governo de São Paulo. Agora, sediou a primeira Esalq-Show, que pretende discutir o futuro do setor
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Idoso não, velho mesmo, que se mete com editores jovens, precisa ser safo para se livrar de certas situações. Chamam-me:

– Lulinha quer nos dar entrevista exclusiva, mas não aceita falar com nenhum dos medalhões da impressa ou do site. O que tem a revelar é de importância vital para o País. Quer alguém neutro.

– Entendi, alguém para quem ninguém dê bola. Onde será?

– Na casa dele, em Piracicaba, SP.

– Endereço e data?

– De 9 a 11 de outubro. Avenida Pádua Dias, 11. Liga antes para combinar o horário, (19) 3429.4110.

– OK, pessoal, mas não dá para me ceder alguma identificação que sou da CartaCapital? Cartão de visitas, crachá, banner, outdoor, sei lá.

– Vamos pensar.

Ligo, perguntando por Lulinha, alguém atende e acusa-me provocador. Mesmo assim fui. Os editores mandam, eu cumpro.

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Lulinha mora em um grande palácio, cercado de outros 200 menores, total de 262 mil metros quadrados de construções, em quase quatro mil hectares de terra. Parece gostar de plantas, pelos jardins e árvores centenárias.

Pensei: o que é isso comparado a um apartamento de terceira, numa praia de quinta, e um sítio com dois pedalinhos?

Insisti ao telefone. Nada. Resolvemos ir lá. Eu e minha cuidadora (devido à idade), mas também amiga da família, sócia e fotógrafa Viviane.

Sempre que perguntava por Lulinha, uns sorriam, outros gargalhavam.

– Já que veio atrás dele, por que o nobre e famoso repórter não aproveita para visitar o 1º Esalq-Show, que acontece nesses dias? Real e a merecer uma boa matéria.

Diante do show de risadas e já ali, aceitamos o convite. Fosse Ronaldo, o Caiado, teria ido embora para se encontrar com outra mula.

Apesar de folhas, telas, redes sociais de direita, e Kim Katakifeiúra opinarem o contrário, no endereço indicado, desde 1900, está a Escola Agrícola Prática de Piracicaba, antiga Fazenda São João da Montanha, doada por Luiz Vicente de Souza Queiroz ao governo de São Paulo.

Daí em diante, a Esalq foi modelo de desenvolvimento para várias escolas, que tornaram o Brasil um dos maiores centros de excelência educacional agrícola do planeta. Tal visão pode ser constatada no folheto “Luiz de Queiroz – Vida e Obra, uma percepção humanística”, ou em pesquisas na internet.

Mas vamos à semana passada. Editores inocentes, acharam que não me cedendo identificação como do site (na impressa há cinco anos não existo) eu não iria me virar? Com 7.2 tudo fica simples. Aos incrédulos que me interessava bisbilhotar, abria o celular e mostrava minha coluna. Pronto!

Se não faço isso, tomam-me como consultor ou concorrente de expositores e pouco abrem informações. Se da imprensa, consigo dados importantes. Foi o que fiz com o celular, mas estou aqui dividido se reporto ou não.

“Quanto vale”, pergunta Mano Brown, dos “Racionais”. Já sei: a causa democrática (risos).

O primeiro Esalq-Show não se pretendia Ribeirão Preto (SP), Esteio (RS) ou Cascavel (PR). Coisa de estudantes, do futuro, pouco de John Deere, Bayer, Basf, Dow, DuPont, Syngenta, Monsanto, ChemChina, e suas fusões, fundições, ou fu….., melhor parar.

Cuidava-se lá de como fazer uma composteira, dos programas de gestão do Sebrae, de como microempresários devem fazer a gestão de suas unidades agrícolas, a expansão dos controladores biológicos, o inferno dos agrotóxicos, inovações tecnológicas que não chegam aos grandes produtores de grãos comprados pelas multinacionais através de agrônomos robotizados, as conquistas do Instituto Biológico de São Paulo e as vantagens do uso de agentes naturais e orgânicos complexados com os químicos. Enfim, os desafios de enfrentar as tendências futuras.

A partir daí, vacinamos de forma mais eficaz contra a esquistossomose, temos software mais efetivos para o futebol, a eficácia das gerações de energias eólicas e solares, analgésicos mais potentes que a morfina, fornecidos no ninar do sapo-cururu, cachaça como efeito redutor da emissão de CO2, chaminés industriais para eliminar a emissão de gases poluentes.

Bobagens? Não. De muito mais ficamos sabendo na casa de Lulinha. Não sei se ele tomou conhecimento disso.

Em muito, nos atendeu a Giovanna, graduanda e agregada à Casa da Agricultura Rural, que atende ao Brasil todo, sem custo e com indicações de soluções agrícolas. Pequenos e médios agricultores, sirvam-se da Casa.

Imprimem cartilhas sobre manejo e tratamento de culturas, na linguagem do produtor rural, e têm canal no YouTube.

E o Lulinha? Sei lá. Perguntem aos meus editores ou a Sérgio Moro. Eles devem saber.

Fomos agraciados com o livreto “Cultivo e Produção de Banana”, dos pesquisadores João Scarpare, Simone Rodrigues e Gabriel Novoletti, editado pela ESALQ-USP.

Se alguém usar o fato para delação premiada, dou uma banana ao delator.  

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