Política

Verdade em negociação

Ardilmente a verdade nacional é negociada para uso de quem possa se favorecer de suas versões mais convenientes.

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Se ainda não é golpe, ardil já é. Temos uma camarilha política, judicial e midiática exímia em negociar a verdade nacional e se encantar com a opinião mundial quando ela serve a seus interesses. Quando não, retumba: “Imbecis, 54 milhões de eleitores, cá estamos para salvar vocês. Gringos não entendem nada de Brasil”.

Fora os atores da pantomima mambembe, regiamente pagos pela Federação de Corporações, muitos se espantam com toques e tiques patéticos do amigo do pato amarelo, vice-presidente inexpressivo, instrumento do governo até que a ambição o mandasse trair.

Junte-se aí o presidente da Câmara, corrupto comprovado na Suíça e paraísos fiscais; o do Senado, que renunciou para não ser cassado, depois de acusado por amante abandonada; tribunais e grupos policiais aparelhados na direção de vítimas marcadas; e folhas e telas cotidianas mais partidárias do que jornalísticas.

De pior, resta a elite econômica que deseja Estado para usar e lucrar, e mesmo consciente da verdade prioriza preconceitos e afasta desafetos. Anotem e me cobrem no futuro: em breve, Lula será considerado inelegível para 2018. O Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, já pôs o pé na estrada para a grande final.

O verde Álvaro Dias

Outros palhaços enfeitam o circo antidemocrático. O senador Álvaro Dias, por exemplo. Lembram? Tucano do Paraná, estado agrícola, deixou o PSDB e se filiou ao Partido Verde (PV). Alvíssaras! Usaria ele seus recuperados cabelos e a fala empolada para as causas ambientais? Ou, murchando minha bola, estaria apenas se habilitando a disputar a presidência, longe de Aécio, Serra e Geraldo.

Pois bem, o verde Álvaro foi um dos capitães da representação brasileira no Parlamento do Mercosul, que fez aprovar a substituição do termo agrotóxicos por fitossanitários, na lei da produção rural no Brasil, para alinhar a expressão com a utilizada nos países que integram o bloco sul-americano.

Mentira, engodo, oportunismo a favor da bancada ruralista, sócia dos interesses de grupos multinacionais fabricantes de “venenos”, como caboclos, campesinos e sertanejos se referem aos agrotóxicos. Entenderão fitossanitários para aplica-los de forma correta?

Em países de língua espanhola, usa-se pesticidas; em francês e inglês, pesticides, só mudando a pronúncia; em alemão, pestizides. Estes os termos comumente usados. Se é para adequação terminológica, substituam o termo por PESTICIDAS, sim, de peste, sejam eles fungos, bactérias, lagartas, ácaros, o siri e o cacete apud João Bosco e Aldir Blanc.

Ah, “humanos sanitários” de jeito nenhum.

Ruralistas frustrados

Os Berrantes Caiados, devem ter-se frustrado. Se opunham ao anúncio do Plano Safra 2016/17. O governo, prevendo a contração de crédito que virá para o ajuste fiscal, através dos ministros Kátia Abreu (Agricultura) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário), convenceram a legítima e única presidente, Dilma Rousseff, a assiná-lo garantindo recursos nos moldes que vinham sendo estabelecidos em governos petistas.

Serão liberados R$ 202,88 bilhões em linha de financiamento destinada aos médios e grandes produtores, 8% superior ao da safra passada. Os juros foram ajustados para 8,5% a 12,7% ao ano.

Nos últimos cinco anos, a oferta de crédito agrícola avançou 89%. Para a agricultura familiar serão destinados mais R$ 30 bilhões a taxas de juros mais baixos.

Não são mesmo curiosos esses senhores? Os mesmos que vocês apoiam contra um governo que só os fez mais ricos. Pois saibam, as alegações para o impeachment vêm de ação para garantir o Plano Safra anterior.

Dinheiro para vocês, pois, a partir de ministérios e instituições financeiras. Além disso, as obrigações junto aos bancos oficiais relativas a 2015 foram integralmente quitadas. Chupem Berrantes Caiados!

Enquanto na China…

Finalizo com uma internacional. Perceberam o frenesi de economistas brasileiros ao torcerem pelo declínio do antigo Império do Meio? Bobos, seguem os norte-americanos sem entender que eles têm motivos para tanto.

Nós, pelo contrário, deveríamos torcer para que, cada vez mais, a China nos proporcione equilíbrio diante das potências ocidentais, sobretudo em agronegócios. Ou pensam que a hegemonia dos EUA, como produtores e exportadores de commodities agropecuárias, nos é benéfica e não concorrencial?

Foi-se a Syngenta, suíça, cobiçada pela norte-americana Monsanto; no Brasil, os chineses acabam de comprar 57% da FIAGRIL do Mato Grosso (logística, insumos e grãos) e o fosfato da Copebrás (Anglo American).

Deixo a pergunta, como sempre singela: acham que aonde a China chegou em ativos planetários, voltará atrás somente para não azarar a hegemonia dos EUA e a sabujice brasileira? De mercado e centralmente planejada.

Aguentem.

 

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