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Indústria. No modelo off-site, o imóveis saem da fábrica quase prontos, com os sistemas hidráulicos e elétricos instalados – Imagem: Redes sociais

StudioCarta

Construções sustentáveis

Com a incorporação de novas tecnologias, as moradias populares ganham mais conforto sem agredir o meio ambiente

CONTEÚDO OFERECIDO POR GOVERNO FEDERAL

Métodos industrializados de construção, utilização de sistemas de energia solar fotovoltaica e até mesmo a entrega de eletrodomésticos juntamente com as casas e os apartamentos são algumas das tecnologias que estão sendo gradativamente incorporadas nos projetos habitacionais do Minha Casa, Minha Vida. O maior desafio é encontrar soluções sustentáveis para que métodos de baixo custo também garantam mais conforto para os moradores, observam empresários da indústria da construção civil no País.

Uma das gigantes do setor, a Tenda desenvolveu um método construtivo próprio, o “Wood Frame”, que utiliza perfis de madeira para obras rápidas e sustentáveis. Os projetos são desenvolvidos pela Alea, uma divisão da ­Tenda especializada em construção off-site (fora do canteiro de obra), que fabrica seus produtos no município paulista de Jaguariúna. As casas são construídas com paredes que têm oito camadas para garantir conforto térmico, isolamento acústico, vedação e acabamento.

“Estamos investindo forte na industrialização”, afirma Daniela Ferrari, diretora de relacionamento institucional da Tenda e também vice-presidente do Sindicato da Construção Civil de São Paulo, o Sinduscon. “Em vez de fazer as obras só no canteiro, parte das atividades é realizada off-site. Nosso setor da construção se ressentia muito da falta de padronização das obras. Agora conseguimos maiores ganhos de produtividade, além de reduzir os custos de produção e possibilitar o acesso das famílias de renda mais baixa a casas e apartamentos com preços menores.”

No modelo off-site, os imóveis saem de fábrica praticamente prontos, com sistemas elétrico e hidráulicos instalados. A depender do projeto, o nível de industrialização pode chegar a 85%. Nesses casos, louças de banheiro e cozinha são colocadas ainda em fábrica. De lá, painéis e módulos são levados para o canteiro, onde serão montados por uma equipe enxuta, cerca de cinco trabalhadores. Em questão de horas, casas, hospitais e escolas surgem no terreno, assegura Luiz França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias, a Abrainc.

A Plano&Plano, construtora paulista com 28 lançamentos em 2023, no valor total de 3,3 milhões de reais, a maioria enquadrada no programa Minha Casa, Minha Vida, também aposta na industrialização, destaca Rodrigo Luna, vice-presidente da companhia e presidente do Secovi de São Paulo, que representa empresas de compra, venda, locação e administração de imóveis. A Plano&Plano teve um crescimento médio de 35% nos últimos anos, assinala. Apenas em 2023 foram lançadas 12 mil unidades habitacionais, 90% das quais dentro do Minha Casa, Minha Vida.

Segundo a empresa, o processo de construção dos empreendimentos é baseado em técnicas de orçamentos sólidos, rigoroso controle de custos e procedimentos bem estruturados e implantados, o que proporciona o alto nível de eficiência da companhia e impacta na qualidade do produto. “Utilizamos o sistema construtivo de alvenaria estrutural, um processo mais flexível, escalável e sustentável”, explica Luna. “Esse método busca minimizar o uso de recursos naturais e a geração de resíduos, garante obras limpas e permite a produção de apartamentos compactos, reduzindo o custo por metro quadrado e, por consequência, o preço dos imóveis.”

O Minha Casa, Minha Vida está ajudando a popularizar o acesso à energia solar no País

A demanda por edifícios energeticamente eficientes e ecologicamente responsáveis é outra tendência em crescimento. “A energia solar está sendo amplamente difundida no País e esperamos que ela também venha a ser incorporada nos projetos do Minha Casa, Minha Vida”, diz Rodrigo Lopes Sauaia, presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, a Absolar. Em março, a entidade apresentou à Secretaria Nacional de Habitação, do Ministério das Cidades, os planos da entidade para inclusão de sistemas de captação de energia solar no Minha Casa, Minha Vida. Ao longo de 2024, está prevista a contratação de 187,5 mil novas unidades habitacionais na Faixa 1 do programa, com recursos do governo federal e entrega estimada para 2025. A meta da pasta é de que todas elas sejam abastecidas por painéis ­fotovoltaicos. As modalidades “Rural” e “Entidades” também têm previsão de incorporar a tecnologia nos empreendimentos.

A energia solar, de fato, é um negócio em expansão no Brasil. Em abril deste ano, o País atingiu a marca de 2 milhões de residências com painéis fotovoltaicos instalados nos telhados. O investimento acumulado desde 2012 ultrapassa a cifra de 70 bilhões de reais, segundo um recente levantamento da ­Absolar. Ainda de acordo com a entidade, os telhados solares nas casas somam cerca de 13 gigawatts (GW) de potência instalada e estão espalhados em mais de 5,5 mil municípios brasileiros. No total, a geração própria de energia solar possui mais de 28 GW de capacidade operacional em residências, comércio, indústrias, propriedades rurais e prédios públicos no Brasil, que abastecem mais de 3,5 milhões de unidades consumidoras.

Um dos maiores desafios para esse avanço é o que fazer com a energia solar excedente das habitações populares, produzidas pelas instalações solares implantadas nos telhados dos consumidores ou nas usinas do entorno das casas e apartamentos, aponta Michel Sednaoui, coordenador da força-tarefa social da Absolar. Segundo ele, o plano é que essa energia permaneça como crédito, que pode ser consumida nos 60 meses seguintes à data de geração dos excedentes. Caso não seja consumido, esse crédito caduca e não pode mais ser utilizado. “Durante os 60 meses, os consumidores têm opção de utilizá-los ou vender para a concessionária local ou ao Poder Público.” •

Publicado na edição n° 1309 de CartaCapital, em 08 de maio de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Construções sustentáveis’

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