Política

CFM muda o tom sobre aborto legal e diz que não quer ‘limitar ou excluir direitos’

Entidade publica nota que contrasta com posicionamentos públicos recentes de seu presidente

Foto: Divulgação/CFM
Apoie Siga-nos no

O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou uma nova nota em que muda o tom adotado nos últimos meses em discussões sobre o aborto legal. O texto assinado pelo presidente do Conselho, José Hiran da Silva Gallo, faz afirmações em defesa do direito – na contramão de posições públicas da entidade e de manifestações recentes do próprio Silva Gallo.

“O CFM é um aliado da população feminina, sem qualquer intenção de limitar ou excluir direitos. Muito menos de penalizar indivíduos ou segmentos populacionais, já historicamente privados de conquistas e até de sua cidadania”, diz o texto publicado na segunda-feira 1º.

O mesmo Silva Gallo que assina a nota, porém, chegou a dizer que “a autonomia da mulher esbarra, sem dúvida, no dever constitucional imposto a todos nós, de proteger a vida de qualquer um, mesmo ser humano formado por 22 semanas”, em sessão no Senado liderada pelo bolsonarista Eduardo Girão (Novo-CE) em junho.

O posicionamento do presidente e da própria entidade mobilizou médicos progressistas, que se organizaram para fazer frente à postura do conselho de classe naquele momento. O cenário político no CFM está movimentado, já que no próximo mês de agosto haverá eleições para a direção da entidade.

No texto divulgado nesta semana, o CFM afirma que “narrativas improcedentes” foram divulgadas em veículos de comunicação e redes sociais. O texto lembra que não cabe ao Conselho decidir sobre o funcionamento do aborto legal – a gestão cabe ao Ministério da Saúde e ao Sistema Único de Saúde.

“Conforme previsto pela Constituição de 1988 e pelo Código de Ética Médica (CEM), em vigor, ao médico é vedado deixar de garantir a todos os pacientes o exercício do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem estar, o qual fica limitado aos pressupostos definidos pela lei”, diz o texto.

“O aperfeiçoamento da rede do aborto legal reduziria o martírio das mulheres vítimas de estupro que, sem acesso a esse tipo de atendimento, são duplamente penalizadas: primeiro pelo agressor, depois pela inoperância do Estado”, prossegue a nota em que o CFM nega qualquer participação no chamado PL do Estupro.

Apesar da negativa, a discussão do projeto de lei foi amplamente encorpada pelas posições do conselho em relação ao aborto no Brasil.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo