Estamos longe de ter vacina para os grupos prioritários, avalia epidemiologista

Nos cálculos de Ethel Maciel, serão necessárias 30 milhões de doses para imunizar todo o grupo; a produção depende de insumos da China

Foto: Governo de São Paulo

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Na manhã desta segunda-feira 18, o Ministério da Saúde começou a distribuir as primeiras doses da vacina produzida aos estados. A ação veio após a Anvisa aprovar, para uso emergencial os imunizantes da Sinovac (em parceria com o Instituto Butantan) e o de Oxford, que no Brasil será produzido pela Fiocruz. Só a vacina do Butantan, contudo, tem estoque no Brasil.

A 1ª fase do plano de vacinação prevê a aplicação das 6 milhões de doses da Coronavac em 3 milhões de brasileiros do grupo de maior risco para a covid-19: idosos e deficientes em asilos ou instituições de longa permanência, indígenas vivendo em terras e profissionais de saúde.

Esse número atende, contudo, apenas uma pequena fração dos brasileiros mais vulneráveis a adoecer e morrer. Segundo os cálculos da enfermeira e doutora em epidemiologia Ethel Maciel, serão necessárias 30 milhões de doses para imunizar duas vezes os grupos prioritários nas fases iniciais do plano de imunização.

 

“Estamos longe de conseguir vacinar o primeiro grupo prioritário”, afirma.

Segundo o Ministério da Saúde, o País tem 5,5 milhões de profissionais na linha de frente de combate à pandemia do novo coronavírus.


Maciel lembra também que a produção da vacina só será normalizada após a importação do princípio ativo necessário à produção das vacinas.Em ambos os casos, a substância vem da China.

Segundo o diretor do Butantan, Dimas Covas, a entrega da substância pela China está atrasada há 15 dias.

“Com a matéria-prima, o Butantan consegue produzir um milhão de doses por dia. Até o final de março, o instituto consegue ter algo em torno de 46 milhões de doses”, diz Ethel.

A CartaCapital, a especialista comenta os próximos passos.

CartaCapital: As 6 milhões de doses para o início são suficientes?

Ethel Maciel: Só de trabalhadores da saúde temos 5,5 milhões. Considerando este número, não temos doses suficientes nem para eles. A primeira fase da vacinação, que inclui trabalhadores da saúde, indígenas, pessoas acima de 60 anos institucionalizadas (em asilos) e acima de 65 anos no geral, dariam mais de 14 milhões de pessoas.

Precisaríamos de quase 30 milhões de doses para esta primeira fase. Estamos longe de conseguir vacinar o primeiro grupo prioritário. Pelo que sabemos, o Butantan tem mais quatro milhões de doses, mas como vieram de outro lote terá que pedir nova autorização da Anvisa. Além das duas milhões de doses da Índia.

Sem a IFA [Insumo Farmacêutico Ativo], que a China não enviou nem para o Butantan e nem para a Fiocruz, não podemos começar a produção. Estamos totalmente dependentes.  Ontem, o Dimas Covas disse que a China está atrasada há 15 dias para enviar.

 

CC: Com o insumo, quanto tempo se leva para produzir essa quantidade?

EM: O Butantan disse que, com a matéria-prima, consegue produzir um milhão de doses por dia. Até o final de março, eles conseguem ter em torno de 46 milhões de doses. A Fiocruz diz que, até julho, consegue produzir 100 milhões.

 

CC: Qual deve ser o próximo passo?

EM: Agora, é acelerar a chegada da IFA para o Butantan e para a Fiocruz. Se tivessemos um governo comprometido, seria hora do Itamaraty ajudar.

 


CC: Quem deve receber primeiro?

EM: Devem ser os profissionais de saúde, pois se tem muita dificuldade de substituição e isso impacta toda a cadeia de cuidado.

 

CC: A divisão do Ministério da Saúde foi correta?

EM: O critério da proporcionalidade é bem consolidado dentro do programa de imunização.

 

 

 

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