Estudo sugere que dengue pode fornecer imunidade contra Covid-19

Pesquisa liderada pelo cientista Miguel Nicolelis vê correlação inversa entre casos de dengue e de Covid-19

Aplicação de vacina. Fotos: Jefferson Peixoto/Secom

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Uma pesquisa liderada pelo cientista brasileiro Miguel Nicolelis sugere a possibilidade de que vacinas aprovadas ou em desenvolvimento para a dengue possam resultar em alguma forma de proteção contra o novo coronavírus.

O estudo aponta que lugares em que grande parte da população contraiu dengue no ano passado e no começo deste ano demoraram mais tempo para ter transmissão comunitária exponencial da Covid-19 e registraram números menores de casos e de mortes causadas pelo novo coronavírus, indicando uma possível interação imunológica entre os dois vírus.

A pesquisa aponta uma significativa correlação negativa entre incidência, mortalidade e taxa de crescimento da Covid-19 e o percentual da população com níveis de anticorpos IgM para dengue nos Estados do Brasil, país que tem o terceiro maior surto de Covid-19 no mundo, com mais de 4,5 milhões de casos, e o segundo maior número de mortes causadas pela doença – quase 137 mil.

A tese levantada por Nicolelis e sua equipe surgiu de um estudo sobre a disseminação geográfica da Covid-19 no Brasil e o papel das rodovias como fator de distribuição de casos. O cientista percebeu vazios de casos no mapa em determinadas regiões do país sem explicação aparente, e partiu em busca de possíveis respostas.

Segundo Nicolelis, a resposta apareceu ao analisar a distribuição geográfica dos casos de dengue no Brasil em 2019 e 2020, que ocupavam exatamente os buracos no mapa de casos da Covid-19. As curvas de casos das duas doenças reforçaram a descoberta, uma vez que o surto de dengue entrou em declive acentuado no país no mesmo momento da disparada do novo coronavírus.


“Se estudos imunológicos confirmarem nossos dados epidemiológicos, esta pode ser uma luz de esperança no combate à Covid-19, porque os nossos resultados para o Brasil e 71 outros países da América Latina, Caribe, África e Ásia sugerem que existe uma reação cruzada inversa entre SARS-CoV- 2 e o vírus da dengue. Nossos estudos epidemiológicos mostram que onde houve muita dengue no Brasil em 2019-2020, a incidência de casos e mortes e a velocidade de crescimento das infecções por coronavírus foram bem menores. Possivelmente, isso explicaria o atraso da pandemia de Covid-19 na região Centro-Oeste, no Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, no oeste do Paraná, Santa Catarina, interior de Minas Gerais e Bahia, onde houve muita dengue em 2019-20. Se resultados forem confirmados, é a maior descoberta da minha carreira de 38 anos”, esclarece o pesquisador, que é professor catedrático da Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA).

Para validar a observação feita no Brasil, Nicolelis expandiu a análise da correlação entre dengue e coronavírus para outros 15 países da América Latina, África e Ásia, e o comportamento se repetiu, segundo ele.

Uma vez que ainda não há tratamento ou vacina disponível contra Covid-19, Nicolelis defende que seu estudo tem o potencial de abrir as portas para uma possível forma de combater a pandemia.

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