Outros estados passarão pelo que estamos sofrendo aqui em Manaus, diz infectologista

Na avaliação de Ana Galdina, o vaivém de pacientes infectados com a nova variante do coronavírus aumenta o risco de disseminação da doença

Foto: Michael DANTAS / AFP

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Ao menos desde dezembro de 2020, a infectologista Ana Galdina, coordenadora da comissão de controle de infecção da Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas, nota mudanças nas infecções por coronavírus no estado. A explicação, segundo ela, está na nova variante do vírus encontrada na região. E na falta de políticas de isolamento social.

 

 

Diferente do pico de infecções e mortes que atingiu a capital amazonense no ano passado, agora famílias inteiras chegam aos hospitais em busca de atendimento.

“De dezembro para cá, notamos uma diferença na característica da doença. Agora, várias pessoas do mesmo núcleo familiar adoecem ao mesmo tempo”, diz a infectologista.


“Começamos a perceber também formas atípicas da doença em jovens. Em 2020, era raro ver jovens com formas tão agressivas”, observa.

No domingo 10, o governo japonês anunciou que as autoridades de saúde encontraram uma nova variante do coronavírus em quatro viajantes que estiveram no Amazonas e retornaram ao país no dia 2 de janeiro.

Os pacientes, segundo o país asiático, apresentaram uma variante semelhante às que se disseminaram rapidamente no Reino Unido e na África do Sul e que preocupam pela maior capacidade de contágio.

A variante, segundo Galdina, é mais transmissível, o que aumenta o risco de transferência de pacientes para outros estados. Nesta sexta-feira 15, aviões da Força Áerea Brasileira começaram a levar infectados de Manaus para outras regiões.

De acordo com informações da FAB, o primeiro embarque ocorreu logo pela manhã. As aeronaves deixaram Manaus com 9 pacientes e 5 médicos com destino a Teresina, no Piauí.

O Ministério da Saúde informou, por nota enviada à CNNBrasil, que os pacientes serão transferidos para sete capitais brasileiras e para o Distrito Federal.

“Já estão garantidos – de imediato – 149 leitos: 40 em São Luís (MA); 30 em Teresina (PI); 15 em João Pessoa (PB); 10 em Natal (RN); 20 em Goiânia (GO); 4 em Fortaleza (CE); 10 em Recife (PE) e 20 no Distrito Federal”, informou a pasta.

“Não acho que [a transferênci] seja a melhor decisão com essa variante. Quando se leva pacientes infectados para outros estados, o risco de distribuir a cepa é muito maior. Tem a questão humanitária também. Os parentes já não podem ver o paciente no hospital e agora vão ver os doentes irem para outros estados sem condições de acompanhá-los. O mesmo voo da FAB que leva pacientes não pode trazer o exigênio?”, questiona.

“São estados que, em breve, passarão por isso que estamos passando aqui”, completa.

Na última quinta-feira 14, a falta de oxigênio para pacientes com Covid-19 fez a capital do Amazonas passar por um colapso na saúde.

“Eu nunca pensei, nos meus piores pesadelos, de passar por uma situação dessas. É tão surreal você tentar tratar as pessoas e vê-las asfixiarem na sua frente. É surreal é catrastófico”, relata a infectologista. Ontem, eu cheguei em casa e a minha vontade era de chorar e isso nunca aconteceu comigo. Foi um dia catrastrófico”, lembra.

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