“Respeite o meu direito de não revelar meu tratamento”, diz Uip a Bolsonaro

Coordenador do Centro de Coronavírus de SP, que teve covid-19, respondeu aos ataques afoitos de Bolsonaro na defesa da cloroquina

(Foto: Governo de SP)

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O infectologista e diretor do centro de contingenciamento do coronavírus em SP, David Uip, pediu “respeito ao seu direito de privacidade” sobre o tratamento adotado por ele para tratar a covid-19, doença que o acometeu há duas semanas. O recado foi direcionado ao presidente Jair Bolsonaro, que usou de suas redes sociais ao menos duas vezes para insinuar que Uip não estaria revelando o uso da hidroxicloroquina em seu tratamento por questões políticas, já que o médico faz parte da equipe de saúde do governador João Doria (PSDB).

Em coletiva de imprensa na tarde desta quarta-feira 08, o infectologista dirigiu a palavra a Bolsonaro e o relembrou de quando o presidente não quis divulgar o resultado do teste para coronavírus, que ele fez ao menos três vezes. ”
Eu respeito o seu direito de não revelar o seu diagnóstico. Me respeite. Respeite o meu direito de não revelar o meu tratamento e a privacidade de meus pacientes”, disse Uip.

Na terça-feira, uma foto de uma receita médica no nome da clínica de Uip vazou na internet. A receita encomendava a cloroquina no dia 13 de março, portanto antes do diagnóstico do médico sair. Em entrevista à Rádio Gaúcha, Uip afirmou que “algum lugar vazou de forma incorreta” o pedido médico, o que o preocuparia por conta da privacidade de seus pacientes.

“A receita é da minha clínica. Eu não tenho nada contra o uso de cloroquina – pelo contrário, eu uso nos meus pacientes internados. O que está se fazendo confusão é a respeito do meu tratamento pessoal. A transparência como homem público é dizer tudo que eu tenho. Divulgar um tratamento para propagação ou não de medicamentos eu acho incorreto.”, disse o médico.

Uip disse que irá tomar providências legais em relação ao vazamento, e reafirmou o conteúdo da conversa que teve com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, acerca do uso do remédio nos pacientes com coronavírus.


“Eu sugeri ao ministro que ampliasse o uso da cloroquina para todos os pacientes internados em duas condições: desde que o médico receitasse e o paciente autorizasse. A cloroquina não é um remédio inócuo, tem efeitos adversos. é um medicamento que tem que ser usado com critério e com cuidado com a observação do médico que prescreveu.”, explicou o médico.

Para Bolsonaro, no entanto, a recusa do médico em divulgar seu tratamento pessoal teria um caráter político. O uso do medicamento tem sido o assunto principal nas redes sociais do presidente, apesar do próprio Ministério da Saúde já ter afirmado que o medicamento pode ser promissor, mas que está em fase de testes.

Bolsonaro chegou até mesmo a citar o Juramento de Hipócrates em um tweet, dando a entender que os médicos reticentes ao uso do remédio iriam contra a profissão. “Que Deus ilumine esses dois profissionais, de modo que revelem para o mundo que existe um promissor remédio no Brasil.”, disse o presidente.

 

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