Maria Rita Kehl

Opinião

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A história dos vencidos

Procurei um velho amigo na Avenida Paulista e ele não estava mais lá. Registro aqui a sua existência

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Recentemente, fui visitar meu amigo na Avenida Paulista e ele não estava lá. Ninguém, ao redor de seu endereço, sabia seu paradeiro. Tinha desaparecido da minha paisagem tão familiar.

Acontece que seu endereço não era o de um prédio ou de uma loja. Era uma barraca na calçada, dessas que uma ONG teve a excelente ideia de distribuir para moradores de rua. Meu amigo, cujo nome nunca me ocorreu perguntar, não morava só. Como também acontece com moradores de rua, vivia com seus cachorros. Cinco. Só me lembro do nome de uma delas: Vaquinha. Hoje, percebo, consternada, que também nunca perguntei o nome do próprio dono dos cãezinhos! Quando eu passava por ali, pedia dinheiro apenas para comprar comida para os bichos. Mas, além de ajudá-lo com a ração barata dos seus bichinhos, eu também comprava, no bar atrás de sua barraca, um pastel de carne e um de frango. A exclamação de prazer com que ele recebia o lanche – ôôô dona! – evidenciava que, apesar de pedir ajuda apenas para alimentar seus cachorros, ele também tinha fome.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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