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Boas notícias do Vale do São Francisco

O Vale está mais animado, e crescendo

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Sempre que volto de visita ao polo agricultor, mercantil e industrial do Vale do São Francisco, Petrolina (PE), Juazeiro (BA) e outros municípios, fico com vontade de viver os mais 72 anos que o empresário Aldemir Rodrigues, da Seiva do Vale, diz que irei viver e, quem sabe, então, ver o Brasil que sonho.

Ele é duro na queda, mas sabemos fazer negócios. Somos justos e entendemos como devem andar empreendimentos capitalistas, sem truques, passa-moleques, ou apenas esperteza. É preciso olhos abertos, inclusive às necessidades do outro, informação, conhecimento da agricultura e suas tendências e, claro, muito trabalho.

Quando estou lá, não me incomodo em colocar esta carcaça velha a funcionar bem cedo, percorrer estradas, visitar propriedades sob sol infernal, entre hectares de uvas, mangas, goiabas, bananas, acerolas, e o que mais vier cacheando.

Tenho certeza que, depois do trabalho, calor da noite amenizado pela brisa fresca do Velho Chico, nos reuniremos com a equipe no Bodódromo ou restaurante-quiosque similar, onde não demorarei a me contagiar com a alegria dos rapazes e das moças, e me entregar aos sabores das comidas e bebidas nordestinas e sua música tradicional. Gonzaga, Jackson, Alceu, Geraldo Azevedo, Elba, Fagner, Dominguinhos, tantos.

Já sabem os garçons: começo por um espeto de rim de bode, uma cerveja e uma cachaça. Vou aos píncaros e desço amenizando. Paro quando me avisam que o mundo não acabará e no dia seguinte há trabalho. No hotel, daqueles momentos tirarei alguma coisa para escrever. Durmo sabendo ter vivido mais um bom dia.

Nessa visita encontrei o Vale mais animado. Petrolina sendo arborizada. Comércio movimentado. Empreendimentos em construção. Clima bem definido. As exportações cresceram no primeiro semestre deste ano (20% a manga; 65% a uva). Os preços, para quem teve boa a produtividade, estão compensadores.

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Querem saber para comparar com o que se paga em nossas mesas? Manga Tommy Atkins: R$ O,70/kg (R$ 3,00 na exportação). Uva Itália Melhorada: entre R$ 1,70 e R$ 2,00/kg.

Existe na nossa equipe (desculpe-me a “posse”, Aldemir; não é certo eu ´mais´ Viviane dividirmos aquilo que só você e Claudiana construíram), um excepcional conhecedor de técnicas agrícolas para frutíferas, Marcos Solone.  

Com o sorriso mais aberto, a gargalhada mais festiva, o humor mais inteligente, olha para uma fruta e decide: você precisa “fazer isso”. E quem é louco de não seguir suas instruções? Sabem que acertarão.

Marcos é negro e assim se intitula para os amigos, clientes, o planeta. É conhecido nas cidades e fazendas: “diga a ele que o ‘pretinho’ chegou e quer falar”. O “ele” quase sempre é o dono ou gerente da fazenda. Foi assim na bela Fazenda Andorinhas, o “ele” era Edimilson de Oliveira, que produz mangas e uvas. Sabe tudo. Acompanhava-nos também outro ótimo técnico e companheiro, Leandro Levino. Dava para atordoar ouvi-los, tantos os detalhes tecnológicos que discutiam.  

Os trabalhos, a não ser os transportes, são todos manuais. Sobretudo o manejo das uvas, ao mesmo tempo delicados, intensos e pesados, exigindo que o funcionário passe horas em posições incômodas. Não vi ninguém descontente. Assim o Vale do São Francisco foi feito, ficou rico e, hoje, quase não tem desemprego.

Isso me fez lembrar personagem da coluna da semana passada, diretor de uma fábrica de equipamentos, que acredita tudo logo automatizado. Sugiro a ele um tempinho num viveiro de uvas vendo o pessoal fazer enxertia.

Pode ficar em pé mesmo, eles estarão agachados e curvados. Habilidade manual para o pinicado logo após a floração, remoção do excesso de bagas com menos de três milímetros (!) de diâmetro. Também o raleio, com as bagas já em oito milímetros, quando se forma a estrutura final do cacho.

“Ô ‘cumpadi’ por que não apareceu ontem lá no boteco da vila. A ‘muié’ não deixou, não”? Perguntas e respostas entre gargalhadas. “A criançada tá bem”? Gritos guerreiros de povo feliz, sem o rancor pregado em nossas plagas que se pensam revolucionárias, quando não passam de paroquiais.

É tanta a conexão de Marcos com o povo local que o querem candidato a vereador. Ele me diz: “seu Rui, aí quando o senhor vier para Petrolina, vamos ter que tomar uma cachacinha escondidos da oposição. Quero não”.

Nessa última visita, assim que o vi, depois do forte abraço, perguntei se estava tudo bem com ele. Respondeu:

– Doze por oito.

– Como?

– Não é assim que os médicos falam depois de medir nossa pressão?

– Nesse caso, o Brasil está 20 por 12, rimos.

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