Sociedade

Conclusão sobre morte de JK “racha” comissões da verdade

Vereador Mario Covas Neto, relator da Comissão Vladimir Herzog, disse se sentir desestimulado com a postura do órgão federal em não trabalhar em parceria

O ex-presidente Juscelino Kubitschek foi morto em acidente, e não assassinado, segundo a Comissão Nacional da Verdade
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Inconformado com a conclusão do relatório parcial da Comissão Nacional da Verdade, segundo o qual o ex-presidente Juscelino Kubitschek morreu em decorrência de um acidente de carro e não como vítima de um atentado planejado pela ditadura, o vereador Gilberto Natalini, presidente da Comissão da Verdade Vladimir Herzog da Câmara Municipal de São Paulo, disse nesta terça-feira 22 que pedirá uma reunião com os integrantes da CNV para comparar os relatórios de cada comissão e confrontar as opiniões dos peritos. “Vamos conversar com nossos pares para mandar um oficio à Comissão Nacional solicitando que a gente faça uma reunião conjunta com os técnicos que chegaram àquela conclusão. Queremos sentar e acarear os dois relatórios.”

Ex-preso político na ditadura, Natalini criticou o que classificou como “falta de parceria” entre as comissões. “Em nenhum momento fomos ouvidos, mesmo depois de enviar nosso relatório escrito, vídeos, depoimentos gravados e uma quantidade infindável de material. Isso me estranha muito, já que temos um convênio de cooperação assinado pelo próprio José Carlos Dias (membro da CNV) de cooperação”, disse. “Fiquei muito surpreso com essa conclusão contraditória em relação à nossa.”

Nesta terça-feira 22, a CNV apresenta um relatório parcial baseado em análise pericial cuja conclusão é que JK morreu em um acidente automobilístico na Via Dutra, na altura do município de Resende. A versão oficial dizia que o carro no qual viajava o ex-presidente e seu motorista colidiu com uma carreta após ter sido fechado por um ônibus da Viação Cometa, em 22 de agosto de 1976.

Em dezembro, no entanto, a Comissão da Câmara Municipal de São Paulo divulgou um documento com 90 indícios, “evidências, provas, testemunhos, circunstâncias, contradições, controvérsias e questionamentos” a apontar que o ex-presidente, um articulador da volta da democracia ao País, foi alvo de um complô. Dentre os depoimentos apresentados no documento estava o de Josias Nunes de Oliveira, motorista do ônibus que supostamente teria batido no carro do ex-presidente. Em outubro ele havia contado que lhe ofereceram uma mala de dinheiro para assumir a culpa pelo acidente.

“Disseram que se eu pegasse o dinheiro e dissesse que era o culpado, o dinheiro era todo meu”, contou o aposentado de 69 anos em audiência na Comissão da Câmara. “Eles mostraram o dinheiro dentro da mala, eram notas antigas que o Juscelino mandou fazer de 500 cruzeiros. Não aceitei. Saíram do portão da minha casa e não voltaram mais.”

Relator da Comissão da Câmara, o vereador Mario Covas Neto disse se sentir desestimulado com a postura da CNV. “Estou extremamente desapontado, desanimado e achando que nosso trabalho não vai valer de nada. Fico inseguro que qualquer outra coisa que a gente for fazer não vá valer de nada para a Comissão Nacional. É um desrespeito completo a essa comissão”, disse.

Além de dizer que se sente desconfortável em ser relator de uma comissão que, segundo ele, não é levada em conta pela CNV, o vereador contestou a dinâmica de trabalho do órgão federal. “Lamento muito que a Comissão Nacional tenha tomado essa atitude. Mostra que não está entendendo que essa comissão está sendo colaborativa com o trabalho dela. Se a Comissão Nacional achar que a verdade dela é a verdade absoluta, então não faz sentido nem ela existir.”

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