Sociedade

Crítico da “doutrinação”, Doria distribuirá livros de Mises a escolas

Prefeito de São Paulo aceita doação de 5 mil exemplares de obras lançadas por instituto de doutrina neoliberal para a rede de ensino

"As Seis Lições", do economista Mises, fala sobre as "falhas do socialismo". Doria aceitou doações
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Livros de economia do Instituto Mises Brasil podem chegar em breve às escolas municipais de São Paulo. Voltado à produção e à disseminação de estudos “que promovam os princípios de livre mercado”, o instituto leva o nome de Ludwig von Mises (1881-1973), um dos fundadores da Escola Austríaca de Economia, e defende o combate à intervenção estatal.

Crítico daquilo que chama de “doutrinação” nas escolas, o prefeito João Doria (PSDB) deu sinal verde para o Instituto Mises fazer uma doação de 5 mil livros, “para ajudar os alunos da rede pública de São Paulo a aprender lições básicas de economia desde pequenos”.

A oferta foi feita à prefeitura no dia 28 de março, por meio de uma postagem no Facebook. Acostumado a receber doações de empresas, o tucano aceitou.

“Ficamos muito felizes com sua iniciativa. Aprender economia é essencial na vida das pessoas. Um representante de nossa equipe irá entrar em contato com vocês. Parabéns pelo espírito cidadão e por integrar esta corrente do bem”, respondeu o prefeito nos comentários do post, com seu perfil pessoal.

Doria- Facebook

O Instituto Mises afirma que aguarda o contato. Os títulos deverão ser escolhidos pela gestão Doria, mas a ideia inicial é doar exemplares do livro As Seis Lições, cujo conteúdo poderia ser assimilado por alunos do 8º e do 9º anos do ensino fundamental, diz a entidade.

Baseada em palestras que Mises proferiu em 1959 para empresários, estudantes e professores em Buenos Aires, a obra “dissecou as falhas do socialismo e das políticas assistencialistas”, conforme sinopse disponível na loja virtual do instituto.

Embora pertença a uma corrente minoritária na academia, Mises é citado com frequência por ícones da direita brasileira, como o filósofo Olavo de Carvalho. Nos atos que tomaram de verde e amarelo as ruas do País a favor do impeachment de Dilma Rousseff, elogios a Carvalho estampavam camisetas e andavam lado a lado de cartazes com o lema “Mais Mises, Menos Marx”.

Em seu livro A Mentalidade Anticapitalista, por exemplo, Mises tentou mostrar que foi através do sistema capitalista que os homens alcançaram qualidade de vida e liberdade individual.

“Na estrutura de uma economia de mercado não sabotada pelas panaceias dos governos e dos políticos, não existem grandes nem nobres mantendo a ralé submissa, coletando tributos e impostos, banqueteando-se suntuosamente enquanto os servos devem contentar-se com as migalhas”, diz trecho do livro. É a negação da política.

Embora esteja “muito feliz” com a doação dos livros, o prefeito faz críticas à “doutrinação” nas escolas sempre que possível. “Eu acho que cada um tem o direito de fazer sua opção. Pode fazer sua opção política, de gênero, da forma que achar conveniente. Mas transformar isso em políticas na sala de aula, eu sou contra”, disse Doria em entrevista publicada no dia 31 de março (vídeo abaixo).

CartaCapital entrou em contato com a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de São Paulo, mas foi informada de que o órgão não responde por informações divulgadas no perfil pessoal de João Doria no Facebook. A Secretaria Municipal de Educação também foi procurada, mas não respondeu.

Na tarde desta quinta-feira 6, após a publicação da reportagem, a Secretaria de Comunicação informou que a Secretaria da Cultura está à frente do trâmite e que a ideia é disponibilizar os livros em bibliotecas.

“Toda doação, para ser formalizada, depende de um entendimento entre quem oferece o bem ou serviço e o órgão que irá recebê-lo. Após todas as tratativas, caso a doação seja concretizada, o termo é publicado no Diário Oficial da Cidade. A Coordenadoria do Sistema Municipal de Bibliotecas, órgão da Secretaria Municipal da Cultura, entrou em contato com o Instituto Mises sobre a proposta de doação de livros feita pela entidade, e ainda não teve retorno”, diz a nota da prefeitura.

 

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