Cultura
Equipe de filme brasileiro faz protesto contra marco temporal no tapete vermelho de Cannes
O longa, filmado durante 15 meses, aborda um dos temas mais urgentes para todos os povos indígenas do Brasil: a demarcação de terras
![](https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2023/05/Imagem-do-WhatsApp-de-2023-05-25-às-06.12.50.jpg)
“A Flor do Buriti”, sobre a resistência do povo Krahô do norte de Tocantins, concorre na mostra “Um Certo Olhar”. A equipe do filme, codirigido pelo português João Salaviza e pela brasileira Renée Nader Messora, protestou no tapete vermelho do Festival de Cannes contra o marco temporal na noite dessa quarta-feira (24).
A equipe do filme segurou na escadaria do Palácio dos Festivais, diante dos fotógrafos do mundo todo, uma faixa com os dizeres: não ao marco temporal, the future of indigenous lands in Brazil is under threat (o futuro das terras indígenas brasileiras está ameaçado). Participaram do ato os diretores Renée Nader Messora e João Salaviza, os indígenas Ilda Patpro Krahô, Francisco Hyjnõ Krahô, Ihjãc Henrique Krahô, que também assinam o roteiro de “Crowrã, A Flor do Buriti”, a produtora Julia Alves, entre outros.
A produção luso-brasileira, que concorre na mostra Um Certo Olhar, estreou na terça-feira (23) e foi recebida com entusiasmo pela plateia, sendo aplaudido por vários minutos, e teve boas críticas na imprensa francesa.
Críticas
Libération escreveu que o filme mistura cenas oníricas e fragmentos da vida cotidiana para mostrar a luta pela sobrevivência dos Krahô. “Um trabalho honesto que explícita a tensão entre a preservação de um legado cultural e a aspiração à modernidade”, diz jornal. “’A Flor do Buriti” é a alma que esconde a floresta, resume o título da matéria. Le Monde diz que o filme tem “uma grande magia poética”.
Com o novo longa, a dupla luso-brasileira dá continuidade à colaboração de longos anos dos diretores com a indígena de Pedra Branca. Em 2018, os diretores venceram o Prêmio Especial do Júri, na mesma mostra, com “A Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos”, também sobre a mesma comunidade. “E importante sublinhar é que o nosso projeto com os Krahôs não é um projeto artístico, é um projeto de vida”, disse à RFI João Salaviza, após a estreia do filme em Cannes.
História de luta e formas de resistência
A narrativa, feita coletivamente pelos indígenas, mostra como os krahôs veem o mundo e revela os últimos 80 anos da história da comunidade, desde um massacre que foram vítimas em 1940 até a resistência ao governo Bolsonaro. O longa, filmado durante 15 meses, aborda um dos temas mais urgentes para todos os povos indígenas do Brasil: a demarcação de terras e a revisão do marco temporal.
“É muito importante que Cannes abra espaço para essa visibilidade fora do Brasil também, porque é uma luta que tem que ser travada a nível global. A demarcação das terras indígenas não tem a ver só com os povos indígenas, ela tem a ver com a nossa sobrevivência no planeta, enquanto humanidade”, ressaltou Renée Nader Messora, em entrevista à RFI.
Os vencedores da mostra Um Certo Olhar serão conhecidos no sábado (27), durante a cerimônia de encerramento do Festival de Cannes.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também
![](https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2023/05/img20230524183418580MED-300x200.jpg)
Câmara aprova urgência de projeto que dificulta a demarcação de terras indígenas
Por CartaCapital![](https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2023/05/52853906094_a7d65d40d4_k-300x200.jpg)
Demarcação de terras indígenas é a medida do governo mais aprovada pela população, aponta pesquisa
Por André Lucena![](https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2023/05/CAPA-para-matéria-1064-×-614-px-2023-05-24T115625.817-300x173.png)
Marina critica proposta de mudanças no Ministério do Meio Ambiente: ‘Desserviço’
Por Camila da Silva![](https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2023/05/img20230524165710595MED-1-300x200.jpg)
A boiada está passando novamente, dizem ONGs sobre relatório que enfraquece Marina Silva
Por CartaCapital![](https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2023/05/img20230524165710595MED-1-300x200.jpg)