Sociedade

Facebook, afasta de nós esse cálice

Na rede social, ativistas vêm sendo bloqueados por conta de denúncias aleatórias

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Ativistas das mais variadas causas vem tendo seus perfis bloqueados pelo Facebook. Alguns por conta de ataques de haters que se organizam para denunciar os perfis e outros por usarem palavras como “bicha”, por exemplo.

Foi o que aconteceu com o militante Artur Santoro. “Eu acho que jogaram meu perfil naqueles grupos ‘zoeiros’ de Facebook e por isso, várias pessoas começaram a comentar besteira nos meus posts/fotos e denunciaram diversas fotos minhas aleatórias por nudez, o que não era verdade”, diz..

“E uma hora o Facebook acabou acatando. O filtro do Facebook também é um problema. Tem vezes que nem precisa de denúncia que o filtro do Facebook vê uma palavra “problemática” e já dá bloqueio sem nem olhar o contexto em que ela foi utilizada. Nessas, eu fui bloqueado por escrever “bicha” (sim, fui bloqueado por dizer o que eu sou).” Uma das páginas que administra, a “Cartazes e Tirinhas LGBT”, também já foi bloqueada devido a ataques.

Stephanie Ribeiro, estudante de arquitetura e feminista negra, teve seu perfil bloqueado nessa semana pela segunda vez após denúncias de um grupo racista que a persegue há mais de um ano. Ela foi bloqueada por “racismo”, sendo ela negra e por escrever contra o racismo de fato.

Stephanie é uma das jovens feministas que vem ganhando espaço em discussões sobre racismo e machismo, porém ao mesmo tempo, atraindo um número de perseguidores. Ela diz: “A questão é que pessoas vão denunciar mesmo, pois acham que quando pessoas negras falam de racismo são raivosas”, afirma. “O problema é o Facebook acatar todas essas denúncias racistas sem triagem alguma. Quando Jout Jout foi bloqueada, eles viram que erraram e desfizeram o bloqueio. Por que quando pessoas negras são bloqueadas por ataques racistas eles não voltam atrás e pedem desculpas?”, questiona.

Também nessa semana uma mãe que não quis aderir ao desafio da maternidade, um desafio virtual para que mães postassem fotos felizes com seus filhos, teve seu perfil bloqueado. A dona de casa Juliana Reis escreveu em seu perfil contra a romantização da maternidade falando sobre as dificuldades de se criar um filho com o seguinte título: “Quero deixar bem claro que amo eu filho, mas odeio ser mãe”.

Juliana apenas retratou como muitas vezes a rotina é cansativa, desgastante e fez um relato humanizado da maternidade, sem apologia á figura da “mãe maravilha”. Seu relato viralizou em pouco tempo e ela recebeu mensagens de apoio e carinho, porém, pessoas contrárias a sua visão denunciaram seu perfil e as denúncias foram acatadas pelo Facebook.

Esses casos nos fazem questionar: quais são os critérios do Facebook para bloqueio? Há centenas de páginas de ódio nesta rede social, e muitas vezes, quando denunciamos, elas não são retiradas do ar ou demoram a ser. Então, por qual motivo uma mãe que faz um relato sincero e sensível ou uma ativista antirracista tiveram seus perfis bloqueados? Por qual lógica opera o Facebook?

Pessoas que lutam por uma sociedade mais justa e humana sendo caladas por conta de denúncias aleatórias de quem sempre teve voz nos faz pensar até que ponto os critérios dessa rede social são sérios. Vários militantes que passaram por isso já pediram explicações, mas até agora seguem sem respostas. Facebook, afaste de nós esse cálice!

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