Sociedade

José Mayer admite assédio e pede desculpas: “Eu errei”

Após exposição e críticas, ator global diz ter “passado dos limites”. Caso de assédio contra figurinista veio à tona na semana passada

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O ator global José Mayer admitiu que “errou” ao assediar a figurinista Susllem Tonani em carta aberta publicada nesta terça 4 e pediu desculpas pela atitude, justificada por pertencer a uma geração de homens “que aprendeu, erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser disfarçadas de brincadeiras ou piadas”. 

A denúncia de assédio envolvendo o ator foi publicada pela figurinista no blog feminista #AgoraÉQueSãoElas, veiculado no site da Folha de S. Paulo. Nela, Susllem detalha as investidas do ator, com o qual ela trabalhava, que começaram com comentários como “você é bonita” e escalaram para “você nunca vai dar pra mim?”, culminando em um episódio em que o ator colocou a mão na genitália da figurinista, na frente de outros funcionários.

“Quantas vezes tivemos e teremos que nos sentir despidas pelo olhar de um homem, e ainda assim – ou por isso mesmo – sentir medo de gritar e parecer loucas?”, escreveu Susllem.

A denúncia, publicada inicialmente na madrugada de sexta 31, chegou a ser retirada do ar pelo jornal para que fosse ouvido “o outro lado” e voltou ao ar horas depois. 

“Em fevereiro de 2017, dentro do camarim da empresa, na presença de outras duas mulheres, esse ator, branco, rico, de 67 anos, que fez fama como garanhão, colocou a mão esquerda na minha genitália. Sim, ele colocou a mão na minha buceta e ainda disse que esse era seu desejo antigo”, escreveu.  “Eu? Eu me vi só, desprotegida, encurralada, ridicularizada, inferiorizada, invisível. Senti desespero, nojo, arrependimento de estar ali”. 

Inicialmente, Mayer negou a acusação e afirmou que as atitudes e palavras dirigidas à figurinista eram do personagem que ele interpretava na novela A Lei do Amor e estavam confundindo “ficção com realidade” neste caso. 

Não foi suficiente. 

O caso de assédio no ambiente de trabalho, infelizmente corriqueiro e muitas vezes jogado para debaixo do tapete, gerou revolta nas redes sociais e também entre as próprias funcionárias da Globo.

Na terça-feira 4, muitas usaram camisetas com os dizeres “Mexeu com uma, mexeu com todas” nas dependências do Estúdios Globo (antigo Projac), onde é filmada a teledramaturgia na emissora. 

Atrizes como Taís Araújo, Deborah Secco, Letícia Sabatella, Cleo Pires, entre outras, também repudiaram publicamente as atitudes do ator.

O ator de 67 anos, conhecido por papéis em que encarnava personagens “garanhões”, ficou queimado depois do episódio. Sua participação no elenco da próxima novela de Aguinaldo Silva foi cancelada e, segundo nota oficial publicada pela Globo nesta terça 4, ele está suspenso por tempo indeterminado de todas as produções globais. A emissora pediu, ainda, “sinceras desculpas” à Susllem pela “situação inaceitável” vivida por ela. 

Confira a íntegra da carta de José Mayer: 

Carta aberta aos meus colegas e a todos, mas principalmente aos que agem e pensam como eu agi e pensava:

Eu errei. Errei no que fiz, no que falei, e no que pensava. A atitude correta é pedir desculpas. Mas isso só não basta. É preciso um reconhecimento público que faço agora

Mesmo não tendo tido a intenção de ofender, agredir ou desrespeitar, admito que minhas brincadeiras de cunho machista ultrapassaram os limites do respeito com que devo tratar minhas colegas. Sou responsável pelo que faço.

Tenho amigas, tenho mulher e filha, e asseguro que de forma alguma tenho a intenção de tratar qualquer mulher com desrespeito; não me sinto superior a ninguém, nao sou.

Tristemente, sou sim fruto de uma geração que aprendeu, erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser disfarçadas de brincadeiras ou piadas. Não podem. Não são.

Aprendi nos últimos dias o que levei 60 anos sem aprender. O mundo mudou. E isso é bom. Eu preciso e quero mudar junto com ele.

Este é o meu exercício. Este é o meu compromisso. Isso é o que eu aprendi.

A única coisa que posso pedir a Susllen, às minhas colegas e a toda a sociedade é o entendimento deste meu movimento de mudança.

Espero que este meu reconhecimento público sirva para alertar a tantas pessoas da mesma geração que eu, aos que pensavam da mesma forma que eu, aos que agiam da mesma forma que eu, que os leve a refletir e os incentive também a mudar.

Eu estou vivendo a dolorosa necessidade desta mudança. Dolorosa, mas necessária.

O que posso assegurar é que o José Mayer, homem, ator, pai, filho, marido, colega que surge hoje é, sem dúvida, muito melhor.

*Colaborou Ingrid Matuoka 

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