Sociedade

Manifestação em SP denuncia contrato com empresa israelense envolvida em genocídio palestino

Iniciativa faz parte do Dia Nacional pela Suspensão Definitiva dos Acordos Militares com Israel

Marcha em defesa da Palestina em Londres, em 21 de outubro de 2023. Foto: Henry Nicholls/AFP
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Militantes e ativistas contra o genocídio palestino que ocorre na Faixa de Gaza realizam, nesta quarta-feira 3, um protesto em São Paulo pelo cancelamento de contratos firmados entre o poder público brasileiro e empresas de armas israelenses. O ato está marcado para as 17h, em frente à sede do Comando Militar do Sudeste e integra o Dia Nacional pela Suspensão Definitiva dos Acordos Militares com Israel.

“É chegado o dia de fazermos pressão, com força total, para que o Estado brasileiro faça jus às suas palavras e às obrigações do Direito Internacional, rompendo todos os acordos e transações militares com Israel“, afirma o coletivo Vozes Judaicas para Libertação, uma das 70 entidades responsáveis pela iniciativa. “Não podemos mais ser um país que condena o genocídio do povo palestino com palavras, mas, na prática, financia e mantém contratos de cooperação com o regime israelense”.

A campanha pelo embargo militar a Israel prevê um dia de mobilização nacional neste 3 de julho. O coletivo pede mensagens para pressionar o governo sejam amplamente divulgadas nas redes sociais. Nesta semana, estão também previstos atos da campanha em Salvador, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Florianópolis, Belém e Belo Horizonte.

Contratos

Uma das principais exigências do coletivo é que ocorra a suspensão definitiva de uma compra de cerca de R$ 1 bilhão do Exército brasileiro. A força havia decidido comprar 36 viaturas blindadas de combate, conhecidas como obuseiros, da israelense Elbit Systems, uma das maiores fabricantes de armas e sistemas militares de Israel.

Após a revelação de que o negócio estava prestes a ser fechado, uma onda de indignação passou a pedir pelo seu cancelamento, em ação que envolveu nomes como o cantor Chico Buarque de Hollanda. A assinatura foi então suspensa por 60 dias.

Armas fabricadas pela empresa são utilizadas pelo governo israelense para atacar a Palestina, na ofensiva que já resultou na morte de cerca de 37 mil palestinos desde outubro de 2023. No processo licitatório, a israelense foi a preferida entre empresas da França, China e Eslováquia. O motivo da escolha é a existência de subsidiárias brasileiras da Elbit, que poderiam garantir o suprimento de munição e suporte logístico.

Ao Brasil de Fato, o ministério da Defesa disse que quem responde pela compra é o Exército. Procurada, a Força não respondeu à reportagem.

Contexto

O atual genocídio palestino cometido por Israel na Faixa de Gaza começou em outubro do ano passado, mas as condições no território já eram consideradas “sufocantes” pela ONU antes disso. O bloqueio israelense de 17 anos — para obrigar o Hamas, partido que ganhou as eleições palestinas em 2006, a abdicar do poder — gerou taxas de desemprego de 45% e insegurança alimentar que atingia 64% da população. A ONU calcula que mais de 80% dos moradores de Gaza dependiam, à época, de ajuda externa para sobreviver.

Em 7 de outubro, integrantes do Hamas ingressaram em Israel e realizaram o ataque mais violento já sofrido pelo país, deixando cerca de 1,2 mil mortos e 240 reféns. A resposta do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu foi considerada desproporcional pela comunidade internacional. Bombardeios diários no que é considerado um dos territórios mais densamente povoados do mundo vêm causando a morte de dezenas de milhares de palestinos e destruindo toda a infraestrutura de Gaza.

O número de vítimas fatais ultrapassou 37 mil palestinos — cerca de 70% mulheres e crianças —, com mais de 8 mil pessoas desaparecidas debaixo dos escombros. Foram destruídos 35% dos prédios e praticamente todos os mais de dois milhões de habitantes foram forçados a deixar suas casas.

No outro território palestino ocupado, a Cisjordânia, a violência ilegal praticada por colonos israelenses é diária, com quase 600 mortos. Desde o início do conflito, milhares de palestinos foram presos e o governo anunciou que outros milhares vão ser detidos este ano. Há inúmeros relatos de tortura desses detidos.

A ONU alerta para o desastre humanitário, acusando Israel de usar a fome coletiva como arma de guerra e ressaltando a possibilidade real de que centenas de milhares de palestinos venham a morrer por falta de alimentos. A Corte Internacional de Justiça ordenou a interrupção imediata dos bombardeios em Rafah, para evitar a morte de civis, decisão ignorada por Israel.

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