Sociedade

ONU pede investigação independente após sangrenta operação policial no RJ

Pelo menos 25 pessoas morreram na ação da Polícia Civil na favela do Jacarezinho

Manifestação contra o massacre em Jacarezinho. Foto: MAURO PIMENTEL / AFP
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O Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos disse, nesta sexta-feira 7, estar “profundamente preocupado”, após a sangrenta operação contra o tráfico de drogas da polícia em uma favela do Rio de Janeiro e pediu à Justiça brasileira uma “investigação independente e imparcial”.

Pelo menos 25 pessoas, entre elas um policial, morreram na operação, realizada na quinta-feira 6 na favela do Jacarezinho, na zona norte da cidade – a mais sangrenta da história do Rio de Janeiro, segundo a polícia.

“Recebemos relatos preocupantes, segundo os quais, depois do ocorrido, a polícia não tomou as medidas necessárias para preservar as provas na cena do crime, o que pode dificultar a investigação”, afirmou o porta-voz da instituição da ONU, Rupert Colville.

“Pedimos ao Ministério Público que conduza uma investigação independente e imparcial sobre o assunto, seguindo as normas internacionais”, acrescentou, em entrevista coletiva em Genebra.

A operação policial teve como alvo um grupo que recrutava crianças e adolescentes para o tráfico de drogas, roubos, sequestros e assassinatos. A favela é a base do Comando Vermelho, principal quadrilha de tráfico da cidade.

Ontem, a comunidade foi transformada em um verdadeiro campo de batalha, com intensos tiroteios e helicópteros sobrevoando as casas.

O Alto Comissariado denunciou o uso desproporcional da força policial nas favelas brasileiras, uma tendência que, frisou Colville, já vem de muito tempo.

“Além disso, pedimos um debate amplo e inclusivo no Brasil sobre o modelo de manutenção da ordem aplicado nas favelas”, completou o porta-voz.

A operação foi realizada, apesar de uma decisão do STF proibindo a polícia de realizar este tipo de batida em favelas brasileiras durante a pandemia do coronavírus – salvo em circunstâncias “absolutamente excepcionais”.

“Lembramos às autoridades brasileiras que se deve recorrer à força apenas em casos estritamente necessários e que devem sempre respeitar os princípios de legalidade, precaução, necessidade e proporcionalidade da força letal”, insistiu.

Segundo dados do Instituto de Segurança Pública, a polícia do Rio de Janeiro “foi responsável pela morte de 453 pessoas entre janeiro e março deste ano”, e de 1.245, no ano passado.

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