Sociedade
Quilombo paulista
Amizades, família, amor, trabalho, diversão e arte. Como é o dia a dia na maior cena aberta de uso de drogas do País além do “fluxo”
“Hoje em dia é assim, você vale o que tem, se não tiver nada, você não é ninguém”, canta MC Docinho, em apresentação do Pagode na Lata, realizado a cada 15 dias na região da Cracolândia, em São Paulo. O Bar da Nice, na Rua General Osório, é o ponto de encontro dos bambas do pedaço, vários deles frequentadores da maior cena aberta de consumo de drogas do Brasil, a persistir na paisagem paulistana a despeito dos esforços da polícia para enxotá-los de uma rua a outra. A música é um momento lúdico, mas também uma ferramenta de redução de danos, acreditam os profissionais da saúde que organizam o evento. Na festa, eles ficam afastados do crack, ao menos por algumas horas.
A poucos metros da roda de samba está o fluxo, a multidão de maltrapilhos que se movem em busca de mais uma tragada no cachimbo, tantas vezes retratado pela mídia com distanciamento. De dentro, o cenário revela-se menos caótico do que aparenta. Há organização, hierarquia e disciplina, com uma série de regras atribuídas ao tráfico. A informação circula tão rápido quanto pedra, todos os olhos estão atentos.
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Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
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