Tarcísio diz que não mudará ‘agora’ o uso de câmeras por policiais em São Paulo

O secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, defendeu 'rever' o programa

O governador de São Paulo Tarcísio de Freitas. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse nesta quinta-feira 5 que inicialmente não promoverá mudanças no programa de câmeras instaladas nos uniformes da Polícia Militar. Ele negou, porém, haver discordância com seu secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite.

“Não vamos alterar nada. Para quem está esperando que a gente mexa nesse programa agora, não vamos mexer”, disse Tarcísio a jornalistas após uma reunião com o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), e com secretários estaduais e municipais.

Na quarta 4, em entrevista à Rádio Cruzeiro, de Sorocaba (SP), Derrite defendeu “rever” o programa. Ele afirmou ter solicitado o estudo da FGV a apontar que o uso de câmeras nos uniformes de PMs do estado evitou 104 mortes, uma redução de 57% em relação ao período anterior. O monitoramento foi conduzido entre julho de 2021 e julho de 2022.

“Nós vamos rever o programa. O que existe de bom vai permanecer. Aquilo que não está sendo bom e que pode ser comprovado cientificamente que não é bom (…), a gente vai propor ao governador possíveis alterações”, afirmou Capitão Derrite, como é conhecido.

Tarcísio alegou, porém, que ele e seu secretário dizem “a mesma coisa”.

“A grande questão é tempo, a questão temporal. Neste primeiro momento nada muda”, prosseguiu. “Rever nós vamos rever tudo. A questão é em que tempo, com que dados. A primeira coisa é prudência, você chega e não mexe em nada, deixa o programa fluir.”


A entrevista de Derrite gerou repercussão. O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania divulgou uma nota na qual afirma receber “com preocupação” a declaração. Segundo a pasta, chefiada por Silvio Almeida, “o sucesso dessa política demonstrado pela ciência faz com que ela não apenas tenha que ser reforçada e ampliada nas regiões em que é aplicada, mas também que seja estendida a todas as unidades da federação”.

Mais cedo, procuradores da Justiça de São Paulo já haviam reenviado uma manifestação contrária à ideia do secretário de rever o programa. A peça foi originalmente assinada pelos ex-procuradores Luiz Marrey e Rodrigo Pinho e pelos procuradores Paulo Afonso de Paula e Plínio Gentil. Na sequência, foi endossada por mais 13 membros da categoria.

De acordo com o texto dos procuradores, uma supressão das câmeras – ou mesmo a redução do programa – poderá transmitir a mensagem a um setor minoritário da PM de que haveria uma “licença para matar”. Eles afirmam não ser coincidência a diminuição da letalidade policial após a adoção dos equipamentos.

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