Sociedade

‘Vocês, logo, logo, poderão continuar se e nos envenenando’

Por enquanto, novos registros do glifosato serão proibidos a partir de 3 de setembro. Decisão (que não será cumprida), só favorecerá vendas antecipadas

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Vamos lá. Vocês se interessam mesmo por agricultura e pecuária? Plantam 25 mil hectares de grãos em longínquos rincões do Brasil ou mesmo hortas e pomares de 500 metros quadrados ao lado do quarto onde dormem? Têm no quintal dez pés de café e os chumbinhos estão prestes a florirem?

Pois bem, cuidem-nos como a seus filhos para que mostrem que passaram com nota dez no ano que vem. Assim, seguirão adiante por muitos anos. Vocês souberam cuidá-los e eles vingarão. Também gostaria eu de vingar. Em certos pescoços alheios, tão fácil está.

Ah, claro, esqueci, você aí em Pilão Arcado (BA), que tem rebanho com três cabras leiteiras. Um privilegiado. Tome o leite e faça o melhor queijo que puder.

Vai atrás não de qualquer coisa noticiada em folhas e telas cotidianas do que acontece no Brasil. Ele não é seu. No máximo, o seu país não está a mais de cem metros de sua cama. Cuide disso. Deles, os monstros da economia, dos grandes interesses, dos votos, da política, das bancadas espúrias em bolas, balas e cristos (minúscula, mesmo), dos tribunais, protejam as cabeça em universo imenso e desconhecido. Nunca poderão ir atrás. Dar-lhes-ão paz. Já aos capuzes! Um dia, poderão perceber escravidão disponível e dela se aproveitarem.

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Rezar a Deus? Também podem. Mas não reparo muito esforço Dele para intervir a seus favores. Uma espécie de Supremo Tribunal Federal (STF) terreno.

Cumé aí, onde andei com vocês na semana passada? O orvalho das Montanhas Cafeeiras Gerais já caiu na noite dos cafezais em nova floração? E lá, aonde logo estarei, no raleio das uvas do Vale do São Francisco valeu a pena as meninas em pé sobre banquinhos, mãos ao alto, projetando bagas grandes, doces e sadias?

Velhos amigos produtores de grãos, boa a época de nossos churrascos e produtos da colônia sulinos. Na época, o Paraná ainda não tinha se autoproclamado República. Hoje em dia, já sei, por comodismo de informação e falta de ousadia, ainda se mantêm subjugados por moléculas e divulgação massiva das multinacionais e de costas às tecnologias naturais de origem orgânica que permitiriam vocês se defenderem da política cambial e das cotações na Bolsa de Chicago?

It’s up to you”, como falam aqueles que os dominam. Se preferem gastar mais para produzir o mesmo e, de quebra, preservarem a T(t)erra, vão em frente.

Mas, teimoso tanto quanto vocês, pergunto: por que tantas fusões e aquisições? Bateram o recorde no primeiro semestre. Todos se juntando em alcovas protetoras, enquanto sobe a Bolsa de Valores. Desculpem este colunista. Imagino essa concentração ser para, assim, permitir baixarem os preços que cobram da agricultura pequena, média e grande, mas sempre magnânima. Acertei? Confere?

Têm lido? Não, não me referi às merdas que falam os candidatos à Presidência. Nem ao divulgado pelas Organizações Globo, esta sim a verdadeira presidente do País.

“Monsanto já custa bem mais que o preço pago pela Bayer” (Valor 22/8). A alemã pagou 66 bilhões de dólares pela carapuça Monsanto. Até o momento, fez o seu valor de mercado cair 15 bilhões de dólares na Bolsa de Frankfurt.

Sei que isso o tempo fará voltar. Assim é o atual ciclo do capitalismo. Nenhuma empresa dessa magnitude faz um movimento assim para perder. Mas quem pagará?

Tudo à cause do glifosato, (Round-Up), gradativamente aberto e vulnerável a outros concorrentes no Brasil, especialmente chineses.

Vocês, meus caros, seguem enganados por tendências de oferta e demanda fajutas, instrumentadas por projeções várias e precárias, no interesse de seus fornecedores. Creem-se, então, os “reis da cocada preta”. Não passam de futuros vassalos dos EUA e da China.

Acalmem-se, pois. Vocês, logo, logo, poderão continuar se e nos envenenando. A Aprosoja pede celeridade contra a decisão da Justiça para que, a partir de 3 de setembro, sejam impedidos novos registros do glifosato no Brasil.

Traduzo: que maravilha um produto receber tal decisão (que nunca será cumprida), mas favorecerá um porrilhão de vendas antecipadas às empresas comercializadoras.

Que delícia viver no Brasil. É para quem pode não para quem se …, melhor, tem bode.

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