Volkswagen é acusada de ‘escravidão’ e ‘tráfico de pessoas’ durante a ditadura no Brasil

A montadora foi intimada a comparecer em 14 de junho a um tribunal do Trabalho em Brasília, informam veículos alemães

Foto: Ronny Hartmann/AFP

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O grupo alemão Volkswagen, segundo maior fabricante de automóveis do mundo, enfrenta novas acusações relacionadas à ditadura no Brasil, desta vez por práticas de “escravidão” entre 1974 e 1986. A informação foi publicada neste domingo 29 veículos de comunicação da Alemanha.

De acordo com a TV pública ARD e o jornal Süddeutsche Zeitung, a Volkswagen foi intimada a comparecer em 14 de junho a um tribunal do Trabalho em Brasília.

Questionado pela AFP, um porta-voz da Volkswagen garantiu que a empresa levou “muito a sério” o caso e os “possíveis incidentes” que teriam ocorrido, “nos quais se baseiam as investigações das autoridades judiciais brasileiras”.

Os fatos teriam acontecido entre 1974 e 1986, quando vigorava a ditadura no Brasil. Os funcionários do grupo naquele reivindicam indenizações há vários anos, até agora sem sucesso.

Tráficos de pessoas

Segundo a mídia alemã, as denúncias examinadas pela Justiça brasileira alegam que a montadora utilizou “práticas análogas à escravidão” e “tráfico de pessoas”. Elas acusam o grupo de ter sido cúmplice de “violações sistemáticas de direitos humanos”.

À época, o projeto do grupo era construir um grande sítio agrícola nas margens do Amazonas para o comércio de carnes, a Companhia Vale do Rio Cristalino.


Para isso, centenas de diaristas e funcionários temporários foram contratados via intermediários para trabalhos de desmatamento em 70 mil hectares de terra.

De acordo com a mídia alemã, é provável que a direção da empresa tenha consentido com essas contratações. A imprensa, que consultou mais de 2 mil páginas de depoimentos e relatórios policiais, indica que os trabalhadores às vezes eram maltratados por intermediários e guardas armados.

Entre os documentos estão depoimentos sobre maus tratos a trabalhadores que tentaram fugir e até desaparecimentos suspeitos. A esposa de um trabalhador foi estuprada como punição, de acordo com a mídia alemã. Uma mãe ainda afirma que seu filho morreu como resultado do abuso.

A Volkswagen já enfrentou a Justiça brasileira no passado por sua conduta durante a ditadura.

Em 2020, o grupo concordou em pagar 36 milhões de reais para indenizar famílias de ex-trabalhadores torturados ou mortos nesse período.

Os ex-funcionários e suas famílias disseram que o serviço de segurança da VW no Brasil colaborou com os militares para identificar possíveis suspeitos, que foram detidos e torturados. A colaboração foi confirmada por um relatório independente solicitado pela empresa em 2016.

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