De quem é esse jegue?

Com a pele cobiçada pelos chineses, o jumento corre sérios riscos de extinção

Campanha. O movimento contra o comércio da pele busca no Iphan o reconhecimento do animal como patrimônio cultural – Imagem: Marcelo Camargo/ABR

Apoie Siga-nos no

Imortalizado na música de Luiz ­Gonzaga, na poesia de Patativa do ­Assaré, no cordel de J. Borges, na obra de Ariano Suassuna e na tela de ­Candido Portinari, o jumento, também conhecido como jegue e Equus asinus, corre sério risco de extinção. Segundo ­dados do IBGE e da Coordenação de Boas Práticas Agropecuárias da Secretaria de Defesa e Inspeção Agropecuária do Ministério da Agricultura, entre 2011 e 2023, o Brasil abateu mais de 85% da população de jumentos, hoje estimada em 145 mil indivíduos. O número pode ser ainda menor, diante da velocidade do abate para atender ao mercado chinês, que utiliza a pele do jegue para extrair uma substância chamada ejiao, espécie de colágeno celebrado na medicina local. Sem comprovação científica, o medicamento teria propriedade rejuvenescedora. No Brasil, um projeto de lei quer proibir a mortandade do jegue.

O PL foi aprovado pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados e seguiu para a Comissão de Constituição e Justiça. “O jumento teve uma grande participação no processo de desenvolvimento do Brasil e, simbolicamente, é importante para várias religiões, em especial o cristianismo. Com o tempo, ­começou-se a explorar a carne e, principalmente, os produtos derivados do couro para exportação, notadamente para a China. Essa matança ocorre em várias partes do mundo e não é diferente aqui. Se a gente não tomar nenhuma medida, vamos perder a espécie”, alerta o deputado Nilto Tatto, relator do PL na Comissão de Meio Ambiente. “O jumento controla o crescimento de plantas invasoras e dispersa sementes. Sua extinção pode ter consequências graves para a biodiversidade. A única medida capaz de frear esse quadro é a suspensão imediata do abate”, completa o deputado Célio Studart, do PSD cearense, um dos defensores do PL.

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

 

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.