Economia
Na crise, as oportunidades. Será mesmo?
A receita de um analista estrangeiro para o Brasil é interessante
Na semana passada (8/11), o jornal Globo – Valor, como faz periodicamente, publicou artigo do editor e principal analista econômico do britânico Financial Times, Martin Wolf, “Crise brasileira cria oportunidades”.
Provável os colegas desta CartaCapital, professores Belluzzo e Delfim, muito melhor aparelhados do que eu, já o tenham feito ou venham a comentar o texto de Wolf.
Apesar de a lida com caboclos e campesinos tenha me ensinado a não entrar em certos matos sem cachorro, não resisti, valendo-me para este texto das companhias de Filó e Duda, vira-latas de excepcional faro.
Passei a acompanhar a publicação (está no 18º ano) assim que a Gazeta Mercantil deixou de circular. Do período em que sigo o colunista, não lembro, mas tenho certeza de que poucas vezes tratou do Brasil, mesmo nos anos em que fomos os “caras”. Focava os países ricos e os demais BRICS, sem nunca enxergar o auriverde pendão de nossa esperança.
Estranho, pois, reconhecer que “o Brasil está numa crise econômica, política e moral”, mas daí surgirão as oportunidades. Reconheço uma, mas não posso contar.
De toda forma, é importante que tenha voltado a olhar para nós.
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De saída, alega uma passagem rápida pelo País e a “avaliação de uma ex-alta autoridade governamental que conheço há décadas”. Deixa, pois, um roman à clef a nos desafiar. Tenho palpites. E vocês?
Logo desce às planilhas. Primeiro, as boas: aumento da expectativa de vida entre 1970 e 2017; queda na taxa de fertilidade; a Lava-Jato contra a corrupção; percepção de recuperação suave na economia; controle da inflação; e restabelecimento da confiança – 97% de rejeição (?). Depois, única pior: “a desigualdade de renda permanece entre as mais altas do mundo”. Só!
Remédio: “O Brasil necessita uma reforma econômica e fiscal abrangente”. Abertura da economia, reformas tributárias, trabalhistas, previdenciárias e no número e salários de funcionários públicos para controle de gastos. E, com tudo isso, incentivar a poupança nacional.
Bem, ficou fácil. Não? Como? Ah, o senhor leu o artigo e diz que eu deixei escapar duas passagens importantes. Quais? “Impossível visitar o Brasil (…) e não nos entusiasmarmos com o calor de seu povo e a vitalidade de sua cultura”. Verdade. E a outra? “O Brasil precisa de um renascimento político e econômico. A crise torna isso necessário. Se isso não acontecer, o futuro parecerá triste”.
– Não disse que ficou fácil?
– Como, se ele mesmo diz …
– Descobrir com quem ele conversou no Brasil, o roman à clef, lembra?
Vitimização
A coluna neste site me faz receber muitas matérias com informações importantes sobre o planeta agrário. Da mesma forma acontece com publicações do exterior a que acesso ou assino. Sempre que acho o tema interessante e não explorado em nossas folhas e telas cotidianas, repasso-o.
Há algum tempo, talvez depois do golpe de 2016, que renovou a coragem da direita, tenho percebido em viagens, conversas, artigos, entrevistas de TV e, sobretudo, entre os membros da bancada ruralista, forte sentimento de vitimização.
Queixam-se de que todos os raios vindos do céu caem em suas inocentes cabeças. Reificam sua utilidade em nos dar de papar a baixos preços, os resultados da balança comercial na economia, poluição é no meio urbano não rural.
Contam com a ajuda da Rede Globo na campanha “é tech, é pop, é tudo”, agro e algo assim.
Exemplo dessa estultice está no artigo “Fazendeiro não é bandido”, que me enviaram, depois de publicado no Diário da Região, em 11 de agosto de 2017, escrito por certo juiz, locado em São José do Rio Preto (SP).
Cito a pérola do 1º parágrafo e paro. As ostras pediram que o autor fosse a elas para se roçar:
“Setores da burocracia estatal e da grande imprensa influenciadas, em grande parte, por agências de governo e ONGs internacionais, tratam os produtores rurais brasileiros como criminosos”.
Sabe a do jacaré debaixo da cama? Caso para a psiquiatria.
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
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