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Nos EUA, o furacão Harvey traz lembranças do Katrina

Tempestade isola parcialmente e alaga Houston, a quarta maior cidade norte-americana. Até 30 mil podem ficar desabrigados

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O furacão Harvey, uma das tempestades mais fortes a atingir os Estados Unidos, alagou e devastou a região metropolitana de Houston, a quarta maior cidade do país, desde que tocou o chão, na sexta-feira 26. Até aqui, cinco mortes foram confirmadas e as autoridades locais esperam que ao menos 30 mil pessoas fiquem desabrigadas. De acordo com o Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA, o NWS, o Harvey se tornou uma tempestade tropical (inferior ao furacão), mas “está criando sua própria circulação” e por isso sua trajetória “é incerta”. A devastação deve continuar pelos próximos cinco dias.

As chuvas torrenciais alagaram as principais avenidas de Houston, cidade de 2,3 milhões de habitantes, e dificultaram a saída dos moradores da região. “É uma loucura ver como as ruas pelas quais você passa todos os dias estão completamente debaixo de água”, afirmou à AFP John Travis, morador da cidade. A região de Houston/Galveston registrou mais de 600 milímetros de chuva em um período de 24 horas e a expectativa é que o cenário continue se agravando.

“A situação é grave e vai piorar”, afirmou o governador do Texas, Greg Abbott, ao canal Fox News.  “Apesar de um momento de calma, não pensem que a tempestade terminou”, declarou o prefeito de Houston, Sylvester Turner. Ele pediu aos moradores que permaneçam em casa e evitem sair às ruas. Os serviços de emergência pediram aos moradores que sigam para as partes elevadas da cidade ou permaneçam nos tetos das residências, para possibilitar resgates por helicópteros.

Antes da tempestade, os residentes de Houston receberam informações confusas sobre uma possível evacuação – com o governador do Texas e o prefeito de Houston aconselhando diferentes medidas.

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A moradora Desiree Mallard e seu filho de 2 anos chegaram a um abrigo de emergência depois de fugirem de seu complexo de apartamentos num colchão inflado. Um barco da Guarda Costeira os resgatou. Ela disse à agência de notícias Associated Press que queria ter saído de casa antes que o furacão Harvey se aproximasse da Costa do Golfo do Texas, mas viu no noticiário para ficar em casa. “E então, quando a coisa ficou ruim, eles disseram que é tarde demais para evacuar”, disse Mallard.

 

Turner defendeu a decisão de não ordenar a saída dos moradores da cidade. “É perigoso. Se você ordena a evacuação e coloca todas as pessoas na estrada, está chamando uma calamidade maior”. As autoridades temem que a situação se agrave nos próximos dias, com o escoamento da água do interior do estado do Texas para as localidades na costa.

Em Victoria, resistência à adversidade

Em Victoria, cidade de 67 mil habitantes próxima à costa do Texas, sobre uma molhada lâmina de madeira cravada na janela de uma casa, alguém pregou um pedido: “Deus, nos ajude”. Os galhos das árvores destruíram dois veículos, e estragos desse tipo podiam ser vistos no domingo por todas as ruas da cidade, que fica entre Houston, San Antonio e Corpus Christi, 

“Não temos água”, disse John Moraida, que se mudou para Victoria há 13 anos, pouco depois de a localidade ter sido devastada por um furacão, em julho de 2003. Na época, o furacão Claudette deixou pelo menos 90% da cidade sem energia elétrica. Para buscar algo comparável com a destruição causada pelo Harvey, porém, é preciso remontar ao furacão Carla, de 1961.

“Me sentei e, da minha casa, vi toda destruição. Telhados voando, árvores caindo… Foi muito forte”, afirmou Moraida. “A única água que temos tivemos de ir buscar. E o que estamos fazendo é coletar água da chuva”, acrescenta. A velocidade do vento do Harvey diminuiu desde que ele chegou à costa do Golfo e seguiu, lentamente, terra adentro como uma tempestade tropical. Sua passagem mais lenta prolongou e estendeu a devastação.

Teresa Reeder não hesitou em apontar suas maiores preocupações: “Água e eletricidade, claro. A água, sem dúvida, pelas bactérias que estão ali. A eletricidade, porque não podemos pôr nada para funcionar”, afirmou.

Nas interseções da autoestrada, vários veículos, incluindo grandes caminhonetes, estão debaixo d’água e foram abandonados. Muitas ruas residenciais estão com a água na altura dos joelhos, e muitas famílias se surpreenderam ao saírem de suas casas e constatarem a extensão dos danos provocados pela inundação.

Judy Malak, morador dessa localidade há 40 anos, havia-se preparado para resistir à tempestade em casa, mas, com a escala de destruição sem precedentes, não sabe por quanto tempo suas provisões vão durar. “Não temos energia elétrica – embora a parte central tenha – e não temos como conseguir gasolina. Estamos usando a última reserva do nosso gerador de gás”, desabafa.

O Katrina na memória

Os danos do Harvey são imensos a ponto de deixarem o Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA também surpresos. Ao destacar a quantidade de chuva caindo sobre Houston, o NWS afirmou que tratava de uma escala maior que qualquer outra já registrada no Texas. “Esse evento é sem precedentes e todos os impactos são desconhecidos e além de tudo já experimentado. Sigam as ordens oficiais para garantir sua segurança”, escreveu o serviço no Twitter.

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Os danos remetem à passagem do furacão Katrina, que devastou a Luisiana, vizinha do Texas, e o Mississippi em 2005, causando danos de mais de 15 bilhões de dólares. Na época, o então presidente dos EUA, George W. Bush, foi duramente criticado pela reação lenta do governo federal à tempestade, que deixou mais de 1,8 mil mortos e causou um prejuízo de cerca de 151 bilhões de dólares aos cofres públicos.

A Casa Branca anunciou que o presidente Donald Trump visitará as zonas afetadas na terça-feira 29. Segundo a Casa Branca, Trump decretou estado de emergência no Texas a pedido do governo texano. Desta forma, fundos federais podem ser liberados para a reparação dos danos causados pelo furacão Harvey. 

*Com informações da AFP e da DW

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