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Prisão de ex-chefe de campanha aumenta a pressão contra Trump

As primeiras denúncias do conselho especial que investiga a relação do comitê de Trump com a Rússia abrem novo período de crise para a Casa Branca

Trump em 25 de outubro: ele insiste em dizer que não houve conluio com Moscou
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A pressão sobre Donald Trump a respeito dos laços entre sua campanha a presidente dos Estados Unidos e o governo da Rússia aumentou de maneira exponencial nesta segunda-feira 30, com a prisão de Paul Manafort, ex-chefe do comitê eleitoral republicano, e a revelação de que outro conselheiro do então candidato, George Papadopoulos, confessou ter mentido para o FBI, a polícia federal norte-americana, a respeito de seus contatos com emissários russos.

Os fatos mostram avanços significativos na investigação a respeito da possibilidade de auxiliares de Trump e, no limite, o próprio presidente dos Estados Unidos, ter montado um conluio com Moscou para ganhar as eleições de 2016. 

A investigação a respeito das relações entre a campanha de Trump e o governo de Vladimir Putin é realizada por Robert Mueller, ex-diretor do FBI nomeado chefe de um conselho especial do Departamento de Justiça dos EUA. O órgão foi criado em maio deste ano, após Trump demitir o então diretor do FBI, James Comey, e este revelar em um depoimento ao Senado que o presidente pediu a ele para abafar uma investigação contra Michael Flynn, seu ex-conselheiro de segurança nacional, também ligado a suposta conspiração.

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Nesta segunda, Manafort e Rick Gates, seu sócio e vice na campanha de Trump, se entregaram ao FBI. Um grande júri, uma corte preliminar existente no sistema judical norte-americano, aceitou 12 acusações formais apresentadas pro Mueller contra eles, incluindo lavagem de dinheiro (de dezenas de milhões de dólares), fraude e o fato de não terem se registrado como agentes de um governo estrangeiro nos EUA. Manafort se declarou inocente diante das acusações e foi colocado sob prisão domiciliar.

Estrategista republicano de larga experiência, Manafort atuou como lobista da Ucrânia em Washington – o governo de Kiev era um entre muitos clientes do Leste Europeu. A proximidade com a Ucrânia ronda Manafort desde 2016. Em março, ele se juntou ao comitê eleitoral de Trump e, em junho, se tornou o chefe da campanha. Em agosto do ano passado, após a revelação de que recebeu em segredo 12 milhões de dólares de Viktor Yanukovych, ex-presidente ucraniano e firme aliado de Putin, se desligou da candidatura.

As acusações contra Manafort e Gates não têm ligação direta com a eleição, mas com crimes supostamente cometidos durante o período em que estiveram na campanha. Foi este aspecto que os colocou na mira de Robert Mueller. O conselheiro especial pode estar decidido a investigar todo tipo de crime sob sua autoridade, ou estar montando uma estratégia para avançar ao objeto principal. 

As acusações contra Manafort e Gates são pesadas. A de lavagem de dinheiro, por exemplo, tem pena máxima de 20 anos. Diante da possibilidade de sofrerem condenações longas, os dois podem se sentir pressionados a cooperar com as autoridades na investigação mais ampla a respeito da suposta conspiração. 

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Momentaneamente mais grave para Trump é o papel de George Papadopoulos. Também nesta segunda-feira 30, o conselho especial revelou que o ex-conselheiro de política externa do comitê de Trump mentiu a agentes do FBI a a respeito do “tempo, da extensão e da natureza de suas relações e interações com certos cidadãos estrangeiros que ele entendia terem conexões próximas com oficiais seniores do governo russo”.

De acordo com os documentos revelados, em 5 de outubro Papadopoulos confessou o falso testemunho feito ao FBI quando a polícia o questionou, em janeiro, a respeito de suas conversas com um “professor” anônimo ligado a Moscou que sabia “podres” de Hillary Clinton, candidata do Partido Democrata à Casa Branca. “Por meio de suas falsas declarações e omissões, o acusado Papadopoulos impediu a investigação em curso do FBI sobre a existência de vínculos, ou de coordenação, entre indivíduos associados com a campanha e os esforços do governo russo para interferir nas eleições presidenciais de 2016”, afirma Mueller. 

Paul Manafort Paul Manafort: futuro delator? (Foto: Win McNamee / Getty Images North America / AFP)

Papadopoulos teria realizado essas reuniões enquanto integrava a campanha e tentado colocar funcionários do comitê eleitoral em contato com o governo da Rússia. Na ação contra Papadopoulos há mensagens aparentemente comprometedoras. Em um email, funcionários da campanha falam a respeito de viagens para a Rússia, dizendo que “DT”, ou Donald Trump, não faria as viagens, que deveriam ser realizadas “por alguém de cargo baixo na campanha para não mandar nenhum sinal”. Não fica claro a quem esses sinais não poderiam ser enviados. 

Nesta segunda, Trump reagiu como de costume. Pelo Twitter, atacou Hillary Clinton e reafirmou que não houve conspiração com Moscou. “Desculpe, mas ocorreu anos atrás, antes de Paul Manafort fazer parte da campanha Trump. Mas por que o foco não está na Trapaceira Hillary e no Democratas?”, questionou. “Além disso, não houve conluio”, afirmou. 

De fato, Trump tem razão a respeito do fato de que não há prova alguma de conluio. Até aqui, o máximo que as agências de inteligência norte-americanas conseguiram concluir é que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, autorizou uma campanha furtiva de ataques virtuais e propaganda para tentar prejudicar Hillary e ajudar Trump a vencer as eleições.

O presidente dos EUA tem razão, também, ao lembrar dos democratas. Nesta segunda, no mesmo dia em que Manafort foi preso, o lobista democrata Tony Podesta, cujo irmão John Podesta foi chefe de gabinete de Bill Clinton e conselheiro de Barack Obama, anunciou sua saída do Podesta Group, sua firma de lobby. A companhia, assim como Manafort, prestou serviços para o partido do ex-presidente da Ucrânia e deve ser investigada.

Trump tem, no entanto, explicações a dar. Soa estranho, por exemplo, o fato de que Manafort trabalhou de graça para sua campanha enquanto recebia milhões de um aliado de Moscou. É curioso, também, que o ocupante da Casa Branca aja como suspeito. À demissão de James Comey e à revelação feita por este a respeito de Flynn, pode se somar a eventual demissão de Robert Mueller. Em julho, Trump afirmou que uma investigação financeira contra ele próprio seria uma “linha vermelha” que Mueller não poderia cruzar.

Há histeria no campo democrata e na imprensa com as relações entre Trump e a Rússia, mas não é possível descartar que a teoria conspiratória que paira sobre a Casa Branca seja verdadeira. E a melhor chance de os Estados Unidos descobrirem isso é com a investigação em curso.

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