Política

Do agrário para a política

Para fatura líquida e certa ainda no 1º turno, pensava ideal uma chapa Ciro/Haddad, com o apoio explícito de Lula a ela

'O golpe, sem poder evitar as eleições, optou por legitimar-se subtraindo da disputa quem seria o eleito'
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Hoje não vou escrever “agrário”, mas “político”. Claro que à medida em que o agronegócio, sobretudo no Brasil onde produção e exportação de bens primários são expressivas, vistos assim do alto, serão temas sempre intimamente ligados.

Mas a coisa, feia como está, leva ao uso da lupa no sentido partidário e eleitoral. Se o fiz no passado, foram poucas vezes. Sempre critiquei o fato de o colunista “especializado” da Folha, Ronaldo Caiado, usar o espaço como palanque dos interesses financeiros e políticos ruralistas. Nunca consegui ler dele única análise sobre economia ou tecnologia agrícolas.

Minha primeira coluna foi publicada neste site de CartaCapital em 3 de maio de 2013. Até então, apenas poucas incursões na impressa, gentileza de Sérgio Lírio. O site e a coluna começaram quase juntos, lembro a confraternização de lançamento em bar-restaurante próximo à Redação da revista.

Pediam-me que escrevesse sobre as coisas agrárias, com liberdade para abordar outros temas. Logo estarei cumprindo 300 colunas, mostra de que “eu apoio o jornalismo de CartaCapital”. Quando chegar lá mandarei fazer camiseta com o logo da Carta no peito e o número 300 nas costas. Em caso de gol, comemorarei. Os polegares indicando o número nas costas.

Na estreia prometia visões do alto e com a lupa (termo de há cinco anos, hoje copiado por seção da Folha). Assim:

“É nessa lupa, que nem precisa ser tão lupa assim, simples óculos de leitura talvez servissem a mostrar o que na agropecuária vai mal. Homens e mulheres, simples assim. (…) Dessas contradições a coluna viverá daqui em diante” (03/05/2013).

É claro que desde que Lula foi eleito presidente, em 2003, o Acordo Secular de Elites desesperou-se, surpreso vendo um governo progressista, soberano, voltado para a inserção social, com seguidas aprovações recordes e reconhecimento mundial, reeleger-se e seguir por duas vezes conquistando a sucessão.

À primeira oportunidade, em 2013, aproveitando-se de movimento popular legítimo na democracia, mas de causa pouca e superficial para esgarçar o tecido social, o Acordo trouxe de volta suas artimanhas e canalhices históricas.

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Ali começava a ser urdido o golpe de Estado. Ainda inexpressivos, porém, foram incapazes de legitimar-se nas urnas de 2014. Aprofundaram seus conluios, até que em 2016 destituíram a presidente eleita pelo voto popular.

Folhas e telas cotidianas, mercado financeiro, Congresso Nacional, Poder Judiciário e interesses estrangeiros, prontamente, se uniram para voltar a privilegiar os de sempre e seguir carcomendo o País.

Com eleições marcadas, o golpe sem poder evitá-las, optou por legitimar-se subtraindo da disputa quem seria o eleito. Nem mesmo imagem e voz poderiam ser divulgadas. O fascismo sobrevive de medos, os que tem e os que causa.

Há oito anos estamos bobeando e entregando de mão beijada o Poder à direita, seja ela qual for, a disfarçada em palácios vindos de corrupção ou a populista garantida pelas Forças Armadas.

Nas eleições de 7 de outubro, ausente Lula, por proximidade ideológica, votaria em Guilherme Boulos (PSOL). Para fatura líquida e certa ainda no 1º turno, pensava ideal uma chapa Ciro/Haddad, com o apoio explícito de Lula a ela. Garantiria transição que permitisse desfazer parte dos malfeitos do golpe e avançaria em agenda progressista.

Para afastar a barbárie que poderá vir, representada por candidato mentalmente desequilibrado, entrelinhas ditatoriais nas Forças Armadas, e a tendenciosidade da Rede Globo, creio que ao PT valeria a pena o sacrifício de quatro anos fora do mandato presidencial até poder voltar com o seu próprio projeto.

Talvez por mais duas décadas teríamos a direita surpresa a espernear.

Não foi essa, no entanto, a estratégia do PT e de Lula. Preferiram arriscar ver o País em retrocesso, como se os estragos já não fossem tantos.

Sendo assim, só me resta rezar e acompanhar a posição de CartaCapital, com Haddad e Manuela. Se não recuperarmos o Poder Executivo, galhofo: em beleza, o par ganhará longe, não é mesmo cabo Daciolo e “bancário” Amoêdo? Baita gente feia, sô!

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