Política

Retaliação de países árabes preocupa bancada ruralista

Intenção de Bolsonaro de transferir embaixada em Israel para Jerusalém pode prejudicar comércio de carnes para árabes

Tereza Cristina comanda bancada que reúne 260 parlamentares de vários partidos
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Por Thiago Resende

A líder da bancada ruralista no Congresso, deputada Tereza Cristina (DEM-MS), se mostrou preocupada com as reações que países árabes possam ter diante da decisão anunciada pelo presidente eleito Jair Bolsonaro de transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

Em entrevista à DW, ela declarou que “esse assunto preocupa” e lembrou que o Brasil é um grande exportador de carne para o mundo árabe. “Haveria um impacto ruim caso esses países decidam retaliar. Vamos conversar com a equipe de transição”, disse.

O Egito cancelou de uma hora para a outra a viagem que o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, faria ao país nos próximos dias. O governo brasileiro foi informado da decisão nesta segunda-feira, às vésperas da viagem, algo atípico na diplomacia.

Tereza Cristina acrescentou que a bancada apoia o novo governo. “O grupo de transição é para a gente sentar e discutir esses assuntos. O governo vai falar o que quer. Vamos conversar e achar o melhor caminho. O governo está chegando agora.”

A bancada ruralista, que reúne cerca de 260 parlamentares, declarou apoio a Bolsonaro já no primeiro turno.

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DW: A política externa do presidente eleito Jair Bolsonaro já está criando ruídos em países árabes, que são grandes compradores de carnes brasileiras. Como a bancada ruralista reagiu a isso?

Tereza Cristina: Esse assunto preocupa. O Brasil é um grande exportador de carnes bovinas e de aves. Haveria um impacto ruim caso esses países decidam retaliar o nosso país. Vamos conversar com a equipe de transição. Vamos dar a nossa opinião e mostrar a nossa preocupação sobre esse assunto do ponto de vista do agronegócio.

DW: As relações do próximo governo com a China, que é o maior parceiro comercial do Brasil, também não começaram muito bem. Esse é outro ponto de preocupação?

TC: O grupo de transição é para a gente sentar e discutir esses assuntos. O governo vai falar o que quer. Vamos conversar e achar o melhor caminho. O governo está chegando agora. A gente pode concordar ou discordar do governo novo. Mas vamos dialogar. Uma retaliação, no caso desses mercados, tem efeitos diretos nas exportações.

DW: Quais serão as prioridades da bancada ruralista no próximo governo?

TC: Colocamos como prioridade projetos como o de licenciamento ambiental, crédito rural, agricultura de precisão. Também tem o projeto de compra de terras por estrangeiros. Isso é polêmico, mas alguns defendem muito isso. Mas ainda não sei o que esse novo governo pensa sobre o assunto

DW: Qual o objetivo desses projetos?

TC: Queremos melhorar o ambiente de investimentos, ter mais clareza nas regras, pois hoje um licenciamento ambiental demora muito para sair. Precisamos de tempo menor e mais previsibilidade.

DW: Vocês são a favor ou contra uma eventual fusão dos ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura?

TC: Também precisamos conhecer os detalhes. Se houver um modelo diferente do atual e que não traga prejuízo para o meio ambiente, pode ser que a gente concorde.

DW: A Frente Parlamentar Agropecuária reúne hoje cerca de 260 deputados e senadores. Qual será a importância da bancada ruralista no apoio ao novo governo no Congresso?

TC: Nossa vontade é ajudar. A frente reúne parlamentares de diferentes estados e partidos. O governo eleito representa esperança para os produtores rurais, para a agroindústria.

DW: Bolsonaro quer negociar com bancadas no Congresso e deixar de lado a tradicional negociação com os partidos. Isso vai funcionar? Como você poderá convencer tantos parlamentares?

TC: Em assuntos temáticos, que tratam sobre a agroindústria, é fácil de trabalhar. Nos projetos sobre assuntos mais gerais, fica mais difícil. Somos uma bancada pluripartidária. Teríamos que conhecer melhor o assunto para ver se é possível ajudar.

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