Política

Russomanno confirma vocação de ‘cavalo paraguaio’ nas eleições

Candidato do PRB naufraga mais uma vez, após liderar pesquisas durante quase toda a campanha

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A decisão deste domingo (2) tomada pelos paulistanos, de dar a João Doria (PSDB) a vitória nas eleições municipais no primeiro turno, confirmou pela terceira vez consecutiva a vocação de ‘cavalo paraguaio’ do deputado federal e jornalista Celso Russomanno (PRB). A gíria do futebol migrou para a política para denominar candidatos que largam na frente das pesquisas, mas ao longo da campanha perdem força e se distanciam dos campeões. 

Russomanno ganhou o apelido em 2010, quando disputou o governo paulista pelo PP de Paulo Maluf. Ele largou com 10% da preferência ao governo do estado, mas terminou com 5% dos votos na disputa vencida por Geraldo Alckmin (PSDB). Em 2012, já integrante do PRB – legenda comandada pela Igreja Universal do Reino de Deus –, despontou nas pesquisas e terminou ultrapassado por Fernando Haddad (PT) e José Serra (PSDB). 

Neste ano, não foi diferente. O deputado liderou mais uma vez a disputa pela prefeitura de São Paulo, atingindo 31% no Datafolha. Ele encerra sua participação no pleito de 2016 com 13% dos votos válidos, em terceiro lugar. A posição é a mesma de 2012, mas em termos porcentuais, é bem inferior: Há quatro anos, Russomanno teve 21% dos votos.

O cientista político Pedro Arruda, professor da PUC-SP, coloca Russomanno entre as “lideranças personalistas” restritas a nichos específicos do eleitorado. Essas lideranças, contudo, segundo ele, perdem musculatura assim que outros candidatos se apresentam. “Acredito que no começo da campanha ele ganhou muito com o sentimento difuso da população de ser ‘contra tudo isso que está aí’”, afirma.

Esse sentimento, porém, teria cedido em função aos poucos fazendo voltar a polarização PT-PSDB e retirando votos de Russomanno. “Essa polarização ainda existe. No caso da Marta (Suplicy), por exemplo, muitos eleitores não sabiam que ela tinha deixado o PT para se filiar ao partido de Eduardo Cunha e do Renan (Calheiros)”, avalia Arruda.

Para Cláudio Penteado, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), houve um inesperado “derretimento rápido” da candidatura do PRB. A expectativa era de que Russomanno estivesse “escaldado” pelo trauma na disputa de 2012. Mas pesou a falta de jogo de cintura político e de estrutura partidária pesaram na hora dele se sobrepor a ataques de adversários.

A coligação era formada também pelos nanicos PEN e PSC, e pelo mediano PTB. “Ele tem um bom recall com a imagem pública de defensor do consumidor, mas ao contrário da campanha passada (2012), quando caiu por falta de propostas, nessa eleição sofreu com a ausência de estrutura partidária. Faltou ao Russomanno ter feito mais alianças partidárias para ater uma máquina eleitoral mais forte”, afirma.

Sucessão de tropeços

No auge da campanha, o candidato do PRB disse que não poderia comentar a reforma trabalhista preparada pelo governo Michel Temer, apoiada por seu partido, alegando que qualquer declaração “naufragaria” sua candidatura. Depois veio a revelação de que um bar aberto por ele e sócios em Brasília faliu por má administração, resultando em ações trabalhistas.

Antes que Russomanno conseguisse se recuperar da repercussão negativa de sua recusa em falar se era contra ou a favor da reforma, viralizou na internet um vídeo no qual o candidato chamava a polícia para uma caixa de supermercado, durante reportagem no estabelecimento conduzida por ele no seu quadro de defesa do consumidor. As redes sociais foram implacáveis ao acusá-lo de humilhar uma trabalhadora sem poder para definir a política de vendas da rede de supermercado.

Para o professor da UFABC, a imagem de defensor do direito dos consumidores saiu arranhada também após denúncia publicada pelo jornal Folha de S. Paulo sobre multa do Procon a uma das empresas do candidato por propaganda enganosa. “Ele construiu essa imagem e, a partir do momento em que surgiram elementos que tencionaram isso (sem resposta rápida), Russomanno perdeu toda sua força simbólica”, diz Penteado.

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