Política

Celso Russomanno não quer ser ‘cavalo paraguaio’

O candidato do PRB à prefeitura prometer melhorar a eficiência do serviço público e garante que irá disputar até o final

'Se o estado não tem condição e competência para cuidar da segurança pública, a prefeitura tem que cuidar', diz Celso Russomano. Foto: Olga Vlahou
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Por Piero Locatelli e Rodrigo Martins


Na corrida pela prefeitura paulistana, o jornalista Celso Russomanno tenta se descolar da imagem de cavalo paraguaio, que larga bem mas acaba entre os últimos do páreo. Foi assim nas eleições passadas, quando iniciou a disputa ao governo de São Paulo com mais de 10% das intenções de voto em pesquisas de opinião e encerrou a corrida com 5,4% dos votos válidos. “Desta vez será diferente, tenho apoio do meu partido”, rebate o candidato, que atribui o desempenho ruim nas eleições de 2010 à “traição” de seu ex-aliado Paulo Maluf, presidente estadual do PP. O ressentimento é notório e antes mesmo de o gravador começar a funcionar, Russomanno alerta: “Só não me perguntem sobre o Maluf que ele não é mais problema meu, está apoiando o PSDB”.

Hoje filiado ao PRB, partido que abriga diversos líderes da Igreja Universal do Reino de Deus, o candidato se diz mais confiante. E quer se eleger para melhorar a gestão da cidade e tornar mais eficiente o serviço público. “Estamos carentes de governantes que realmente peguem a batuta na mão e toquem a orquestra com rigidez”. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.

CartaCapital: As eleições na capital têm sido marcadas pela polarização entre o PT e o PSDB. O senhor propõe uma terceira via. O que seria isso exatamente?


Celso Russomanno:
Eu não chamaria de terceira via, e sim de terceira força política.A ideia é sair da mesmice. Sempre os mesmos dois partidos políticos, todos agregados a essas legendas, o eleitor fica sem opção. Como só tem duas opções, acaba votando neste candidato para aquele outro não ganhar. Conversei num primeiro momento com o Gabriel Chalita e o PMDB. Poderíamos nos unir e definir o cabeça de chapa em julho, considerando as intenções de voto. Mas aí eles queriam emplacar o candidato que tivesse mais tempo de televisão.

CC: Mas o senhor ainda acredita numa aliança?


CR:
No primeiro turno, não. Mas para o segundo turno sim.

CC: Nas eleições passadas o senhor se apresentou como terceira via, tinha boas intenções de voto no início da campanha, mas terminou com 5,4% dos votos válidos.


CR:
Na verdade, eu não tive partidos políticos se coligando na minha candidatura, eu não tinha nem apoio do próprio partido. O PP trabalhou contra mim no meio da campanha. Aquele senhor lá…

CC: Paulo Maluf?


CR:
Ele mesmo. Declarou que o candidato do PSDB era o melhor. Você acredita nisso, no meio de uma campanha fazer um negócio desse? Hoje eu tenho o apoio total do meu partido, estou muito bem no PRB. É bem diferente, não posso nem fazer comparação.

CC: Então é uma candidatura efetiva?


CR:
Sim, nós vamos até o final.

CC: Por que o senhor quer ser prefeito?


CR:
Trabalhei durante 22 anos para que nós tivéssemos boas leis em defesa da cidadania, leis que estabelecessem qualidades nos serviços privados e nos serviços públicos, órgãos para regular essa relação entre consumidor e fornecedor. Mas lamento porque a maioria dessas leis na prática não funciona. São Paulo não tem um órgão de defesa do consumidor para valer. O Procon é estadual e foi transformado numa fundação que perdeu a força. Todas as cidades no entorno de São Paulo têm Procon, só a capital que não tem. As companhias pintam e bordam do jeito que querem. Eu cansei de ver essas coisas, aí resolvi sacrificar meu mandato de deputado para tentar o Executivo. Porque no Executivo eu vou fazer as coisas acontecerem. A atual administração tirou totalmente a força das subprefeituras. Colocou 31 coronéis lá. Para mim, o subprefeito tem que morar no bairro há pelo menos dez anos, tem que ser um técnico competente e especializado. É preciso descentralizar a gestão.

CC: O problema é a centralização?


CR:
Além da centralização, é uma questão de cidadania. A Prefeitura pede para o cidadão fazer coleta seletiva, mas os caminhões que recolhem o lixo misturam tudo e despejam os resíduos no mesmo lugar. O que adianta eu lavar a caixinha de leite? O que adianta eu lavar os plásticos? Na medida em que as pessoas vêem que não funciona, elas não vão se empenhar. Apenas uma única vez um governante pediu para o povo participar, ajudar na gestão pública. Foi quando o Sarney disse aos brasileiros “vão aos supermercados e fiscalizem os preços”. E todo mundo foi. Pena que durou pouco, que o retorno foi pífio. Mas as pessoas colaboram, participam.

CC: Na sua opinião, qual é o maior desafio de São Paulo?


CR:
Sãovários. São Paulo precisa de um administrador de pulso firme para enfrentar seus problemas. Temos um grande problema na saúde pública. E a gente pretende trabalhar na prevenção, com o Programa Saúde da Família funcionando. Se a atenção primária for boa, você evita internações, previne doenças. E não adianta simplesmente confiar a uma Organização Social (OS) a administração dos postos de saúde e dos prontos socorros. Quem está fiscalizando o trabalho delas? Ninguém. Mas meu foco será na prevenção. O Programa Saúde da Família tem que funcionar. Com 120 mil reais é possível cuidar de 2 mil pessoas neste programa.

CC: E na área de educação?


CR: A principal queixa é a falta de vagas na creche. A prefeitura tem creches excelentes, melhores que as da rede privada. Mas elas são todas horizontais, um andar só. Existe algum impedimento para que elas sejam verticais? Cresce com as creches para cima e a gente vai ter vagas. Já temos o terreno, lugares bem localizados, próximos do local de trabalho das mães.

CC: É possível resolver em um mandato?


CR:
Tranquilamente. Para suprir a demanda de 123 mil crianças, é só verticalizar as creches. Outra reclamação é com a qualidade de ensino nas escolas com a progressão continuada. Para uma mãe que trabalha o dia inteiro, é difícil acompanhar o desempenho do filho na escola. E se a criança está passando de ano, a mãe acha que está tudo bem. Mas pede para uma criança de dez anos ler um texto, uma linha só? Muitas não conseguem. Será que se a progressão continuada fosse realmente boa, as escolas particulares não teriam adotado esse programa? O que não dá é para aprovar aluno que não aprendeu. Precisa reprovar.

CC: O senhor acredita que a prefeitura pode contribuir para a política de segurança?


CR:
  Nós temos 5,3 mil guardas metropolitanos em atividade, com uniforme esgarçados, ganhando mal, sem apoio nenhum. Eu quero reativá-los, não só para fazer o trabalho de colaboração com a Polícia Civil e Militar, mas também para fazer a preservação no entorno de São Paulo, nas áreas de manancial e nas áreas de preservação, na serra da Cantareira.

CC: Muitos especialistas criticam a própria existência das guardas metropolitanas, por entenderem que há sobreposição de tarefas e falta de diálogo com as polícias.


CR:
Os especialistas que me desculpem, eu faço uma crítica a eles. Vamos falar sério sobre segurança pública! As guardas têm, sim, poder de polícia, ao menos para preservação de patrimônio elas têm. Para combater o crime, também. Eu também tenho, qualquer um de nós tem, está no artigo 301 do código de processo penal. Se o estado de São Paulo não tem condição e competência para cuidar da segurança pública, a prefeitura tem que cuidar. Existem cidades com guardas municipais em que o índice de criminalidade é muito baixo. Mas isso depende da vontade política. Nas áreas de maior índice de violência, podemos ter o monitoramento por câmeras 24 horas por dia. Na ocorrência de qualquer problema, a equipe avisa as viaturas. Também podemos aumentar a iluminação pública com qualidade. Eu vou oferecer para o governador um sistema que fale com todo mundo, com todas as viaturas que estiverem fazendo o patrulhamento da cidade, Polícia Militar, Polícia Civil, Guarda Metropolitana. Eu vou oferecer ao governador. Se ele não quiser, venho a público deixar bem claro: estou querendo ajudar, ele não quer. Mas também não dá para discutir segurança sem oferecer oportunidades para os jovens.

CC: Como o senhor pretende enfrentar a epidemia de crack na capital?


CR:
Só existe consumo quando há fornecedor. Se chegamos a essa situação, com dois mil, três mil viciados concentrados num ponto da cidade, formando uma enorme Cracolândia, é porque o poder público foi omisso, não esteve presente. Quando o Estado resolveu agir, os viciados se dispersaram. Mas eles continuam vagando pela cidade em grupos. E por quê? Ainda têm acesso à droga. Ao menos um dos integrantes de cada grupo sabe onde encontrar o crack e abastece o grupo. A lei proíbe punir o usuário, e eu acho muito justo. Mas não proíbe a polícia de tomar a droga daquele usuário. Pelo contrário, o policial tem o dever de apreender qualquer substância ilícita.

CC: O senhor é a favor da internação compulsória?


CR: Não precisamos de internação compulsória se o usuário não tiver acesso ao crack. Se a polícia passar a fazer revistas sistemáticas, a cada meia hora, em cada um desses grupos que vagam pela cidade e apreender a droga, acabou o consumo. Quando o usuário está em crise de abstinência, ele entra em pânico e desespero. Ele vai ficar mal, vai pedir ajuda. O usuário precisa de ajuda com a abstinência.

CC: Essa não é a política da “dor e sofrimento” do governo estadual?


CR: Não importa. Ou se combate o mal pela raiz ou continuaremos permitindo o acesso de drogas pelo usuário e ele vai continuar viciado pelo resto da vida. Todo viciado vai passar por um período de abstinência e sofrer, seja ele rico ou pobre. Ou vamos dar doses cada vez menores para diminuir o vício? Quem vai bancar essa droga?

CC: Mas impor revistas a cada meia hora não é uma violação?


CR:
A legislação penal permite isso. Se você carrega algum produto ilícito, o policial tem o dever de tomar de você. A operação na Cracolândia foi desastrosa por duas razões. Primeiro, porque a polícia deveria ter identificado antes quem eram os fornecedores e impedido o livre comércio da droga. Segundo, porque logo após esse enfrentamento ao tráfico, a estrutura para tratar os viciados já deveria estar pronta.

CC: São Paulo está preparada para receber a Copa de 2014?


CR: A Copa me preocupa demais, sobretudo o acesso ao estádio do Itaquerão. Se você não for de metrô, ficará preso no trânsito. E sabemos a calamidade que o metrô está, um serviço que perdeu qualidade pelo excesso de passageiros.

CC: Uma pesquisa do Instituto Nossa São Paulo revela que um terço dos paulistanos perde mais de três horas para se descolar da casa para o trabalho. Como resolver esse impasse?


CR: É preciso melhorar a qualidade do transporte público. Hoje, cerca de 65% da frota de ônibus em São Paulo ainda é montada sobre chassis de caminhão, que acaba com a coluna do passageiro. O correto é o monobloco, com suspensão a ar. Mas isso não basta, é preciso ter ar condicionado. Para fazer o motorista deixar seu carro em casa e usar um ônibus, é preciso oferecer conforto. Também é indispensável ampliar os corredores de ônibus. Temos de ter monotrilho, sim. Mas também táxi barato. Quem já foi para Nova York sabe que a população usa o táxi porque ele é barato. Aqui, poucos podem usar e 65% da frota andar pela cidade ociosa a maior parte do tempo. Podemos subsidiar os táxis, com isenção do ICMS que cabe ao município da gasolina do taxista, por exemplo. E autorização para o compartilhamento do táxi. Vários usuários fazendo o mesmo trajeto no mesmo veículo, a popular lotação.

CC: O senhor acha necessário restringir a circulação de carros por meio de impostos ou pedágios?


CR:
Sou contra taxa, imposto, pedágio, qualquer coisa que vai mexer no bolso do cidadão. É até injusto com as pessoas de menor poder aquisitivo. Se você cria um pedágio urbano, tira de circulação quem tem menos condições financeiras. Quem tiver, vai continuar andando de carro.

CC: O senhor conseguiu apoios importantes de igrejas evangélicas. Outros candidatos também estão recebendo adesões de grupos religiosos. Devemos esperar uma eleição pautada por temas religiosos?


CR:
Eu tenho apoio de igrejas evangélicas, mas também sou católico. A maioria dos brasileiros, antes de ser evangélico ou católico, é cristão, acredita em Jesus Cristo. Não há razão para uma disputa religiosa nem acredito em uma divisão do eleitorado em função disso. Fico feliz de igrejas evangélicas ou setores da Igreja Católica me apoiarem, mas não vou discutir religião nestas eleições.

Por Piero Locatelli e Rodrigo Martins


Na corrida pela prefeitura paulistana, o jornalista Celso Russomanno tenta se descolar da imagem de cavalo paraguaio, que larga bem mas acaba entre os últimos do páreo. Foi assim nas eleições passadas, quando iniciou a disputa ao governo de São Paulo com mais de 10% das intenções de voto em pesquisas de opinião e encerrou a corrida com 5,4% dos votos válidos. “Desta vez será diferente, tenho apoio do meu partido”, rebate o candidato, que atribui o desempenho ruim nas eleições de 2010 à “traição” de seu ex-aliado Paulo Maluf, presidente estadual do PP. O ressentimento é notório e antes mesmo de o gravador começar a funcionar, Russomanno alerta: “Só não me perguntem sobre o Maluf que ele não é mais problema meu, está apoiando o PSDB”.

Hoje filiado ao PRB, partido que abriga diversos líderes da Igreja Universal do Reino de Deus, o candidato se diz mais confiante. E quer se eleger para melhorar a gestão da cidade e tornar mais eficiente o serviço público. “Estamos carentes de governantes que realmente peguem a batuta na mão e toquem a orquestra com rigidez”. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.

CartaCapital: As eleições na capital têm sido marcadas pela polarização entre o PT e o PSDB. O senhor propõe uma terceira via. O que seria isso exatamente?


Celso Russomanno:
Eu não chamaria de terceira via, e sim de terceira força política.A ideia é sair da mesmice. Sempre os mesmos dois partidos políticos, todos agregados a essas legendas, o eleitor fica sem opção. Como só tem duas opções, acaba votando neste candidato para aquele outro não ganhar. Conversei num primeiro momento com o Gabriel Chalita e o PMDB. Poderíamos nos unir e definir o cabeça de chapa em julho, considerando as intenções de voto. Mas aí eles queriam emplacar o candidato que tivesse mais tempo de televisão.

CC: Mas o senhor ainda acredita numa aliança?


CR:
No primeiro turno, não. Mas para o segundo turno sim.

CC: Nas eleições passadas o senhor se apresentou como terceira via, tinha boas intenções de voto no início da campanha, mas terminou com 5,4% dos votos válidos.


CR:
Na verdade, eu não tive partidos políticos se coligando na minha candidatura, eu não tinha nem apoio do próprio partido. O PP trabalhou contra mim no meio da campanha. Aquele senhor lá…

CC: Paulo Maluf?


CR:
Ele mesmo. Declarou que o candidato do PSDB era o melhor. Você acredita nisso, no meio de uma campanha fazer um negócio desse? Hoje eu tenho o apoio total do meu partido, estou muito bem no PRB. É bem diferente, não posso nem fazer comparação.

CC: Então é uma candidatura efetiva?


CR:
Sim, nós vamos até o final.

CC: Por que o senhor quer ser prefeito?


CR:
Trabalhei durante 22 anos para que nós tivéssemos boas leis em defesa da cidadania, leis que estabelecessem qualidades nos serviços privados e nos serviços públicos, órgãos para regular essa relação entre consumidor e fornecedor. Mas lamento porque a maioria dessas leis na prática não funciona. São Paulo não tem um órgão de defesa do consumidor para valer. O Procon é estadual e foi transformado numa fundação que perdeu a força. Todas as cidades no entorno de São Paulo têm Procon, só a capital que não tem. As companhias pintam e bordam do jeito que querem. Eu cansei de ver essas coisas, aí resolvi sacrificar meu mandato de deputado para tentar o Executivo. Porque no Executivo eu vou fazer as coisas acontecerem. A atual administração tirou totalmente a força das subprefeituras. Colocou 31 coronéis lá. Para mim, o subprefeito tem que morar no bairro há pelo menos dez anos, tem que ser um técnico competente e especializado. É preciso descentralizar a gestão.

CC: O problema é a centralização?


CR:
Além da centralização, é uma questão de cidadania. A Prefeitura pede para o cidadão fazer coleta seletiva, mas os caminhões que recolhem o lixo misturam tudo e despejam os resíduos no mesmo lugar. O que adianta eu lavar a caixinha de leite? O que adianta eu lavar os plásticos? Na medida em que as pessoas vêem que não funciona, elas não vão se empenhar. Apenas uma única vez um governante pediu para o povo participar, ajudar na gestão pública. Foi quando o Sarney disse aos brasileiros “vão aos supermercados e fiscalizem os preços”. E todo mundo foi. Pena que durou pouco, que o retorno foi pífio. Mas as pessoas colaboram, participam.

CC: Na sua opinião, qual é o maior desafio de São Paulo?


CR:
Sãovários. São Paulo precisa de um administrador de pulso firme para enfrentar seus problemas. Temos um grande problema na saúde pública. E a gente pretende trabalhar na prevenção, com o Programa Saúde da Família funcionando. Se a atenção primária for boa, você evita internações, previne doenças. E não adianta simplesmente confiar a uma Organização Social (OS) a administração dos postos de saúde e dos prontos socorros. Quem está fiscalizando o trabalho delas? Ninguém. Mas meu foco será na prevenção. O Programa Saúde da Família tem que funcionar. Com 120 mil reais é possível cuidar de 2 mil pessoas neste programa.

CC: E na área de educação?


CR: A principal queixa é a falta de vagas na creche. A prefeitura tem creches excelentes, melhores que as da rede privada. Mas elas são todas horizontais, um andar só. Existe algum impedimento para que elas sejam verticais? Cresce com as creches para cima e a gente vai ter vagas. Já temos o terreno, lugares bem localizados, próximos do local de trabalho das mães.

CC: É possível resolver em um mandato?


CR:
Tranquilamente. Para suprir a demanda de 123 mil crianças, é só verticalizar as creches. Outra reclamação é com a qualidade de ensino nas escolas com a progressão continuada. Para uma mãe que trabalha o dia inteiro, é difícil acompanhar o desempenho do filho na escola. E se a criança está passando de ano, a mãe acha que está tudo bem. Mas pede para uma criança de dez anos ler um texto, uma linha só? Muitas não conseguem. Será que se a progressão continuada fosse realmente boa, as escolas particulares não teriam adotado esse programa? O que não dá é para aprovar aluno que não aprendeu. Precisa reprovar.

CC: O senhor acredita que a prefeitura pode contribuir para a política de segurança?


CR:
  Nós temos 5,3 mil guardas metropolitanos em atividade, com uniforme esgarçados, ganhando mal, sem apoio nenhum. Eu quero reativá-los, não só para fazer o trabalho de colaboração com a Polícia Civil e Militar, mas também para fazer a preservação no entorno de São Paulo, nas áreas de manancial e nas áreas de preservação, na serra da Cantareira.

CC: Muitos especialistas criticam a própria existência das guardas metropolitanas, por entenderem que há sobreposição de tarefas e falta de diálogo com as polícias.


CR:
Os especialistas que me desculpem, eu faço uma crítica a eles. Vamos falar sério sobre segurança pública! As guardas têm, sim, poder de polícia, ao menos para preservação de patrimônio elas têm. Para combater o crime, também. Eu também tenho, qualquer um de nós tem, está no artigo 301 do código de processo penal. Se o estado de São Paulo não tem condição e competência para cuidar da segurança pública, a prefeitura tem que cuidar. Existem cidades com guardas municipais em que o índice de criminalidade é muito baixo. Mas isso depende da vontade política. Nas áreas de maior índice de violência, podemos ter o monitoramento por câmeras 24 horas por dia. Na ocorrência de qualquer problema, a equipe avisa as viaturas. Também podemos aumentar a iluminação pública com qualidade. Eu vou oferecer para o governador um sistema que fale com todo mundo, com todas as viaturas que estiverem fazendo o patrulhamento da cidade, Polícia Militar, Polícia Civil, Guarda Metropolitana. Eu vou oferecer ao governador. Se ele não quiser, venho a público deixar bem claro: estou querendo ajudar, ele não quer. Mas também não dá para discutir segurança sem oferecer oportunidades para os jovens.

CC: Como o senhor pretende enfrentar a epidemia de crack na capital?


CR:
Só existe consumo quando há fornecedor. Se chegamos a essa situação, com dois mil, três mil viciados concentrados num ponto da cidade, formando uma enorme Cracolândia, é porque o poder público foi omisso, não esteve presente. Quando o Estado resolveu agir, os viciados se dispersaram. Mas eles continuam vagando pela cidade em grupos. E por quê? Ainda têm acesso à droga. Ao menos um dos integrantes de cada grupo sabe onde encontrar o crack e abastece o grupo. A lei proíbe punir o usuário, e eu acho muito justo. Mas não proíbe a polícia de tomar a droga daquele usuário. Pelo contrário, o policial tem o dever de apreender qualquer substância ilícita.

CC: O senhor é a favor da internação compulsória?


CR: Não precisamos de internação compulsória se o usuário não tiver acesso ao crack. Se a polícia passar a fazer revistas sistemáticas, a cada meia hora, em cada um desses grupos que vagam pela cidade e apreender a droga, acabou o consumo. Quando o usuário está em crise de abstinência, ele entra em pânico e desespero. Ele vai ficar mal, vai pedir ajuda. O usuário precisa de ajuda com a abstinência.

CC: Essa não é a política da “dor e sofrimento” do governo estadual?


CR: Não importa. Ou se combate o mal pela raiz ou continuaremos permitindo o acesso de drogas pelo usuário e ele vai continuar viciado pelo resto da vida. Todo viciado vai passar por um período de abstinência e sofrer, seja ele rico ou pobre. Ou vamos dar doses cada vez menores para diminuir o vício? Quem vai bancar essa droga?

CC: Mas impor revistas a cada meia hora não é uma violação?


CR:
A legislação penal permite isso. Se você carrega algum produto ilícito, o policial tem o dever de tomar de você. A operação na Cracolândia foi desastrosa por duas razões. Primeiro, porque a polícia deveria ter identificado antes quem eram os fornecedores e impedido o livre comércio da droga. Segundo, porque logo após esse enfrentamento ao tráfico, a estrutura para tratar os viciados já deveria estar pronta.

CC: São Paulo está preparada para receber a Copa de 2014?


CR: A Copa me preocupa demais, sobretudo o acesso ao estádio do Itaquerão. Se você não for de metrô, ficará preso no trânsito. E sabemos a calamidade que o metrô está, um serviço que perdeu qualidade pelo excesso de passageiros.

CC: Uma pesquisa do Instituto Nossa São Paulo revela que um terço dos paulistanos perde mais de três horas para se descolar da casa para o trabalho. Como resolver esse impasse?


CR: É preciso melhorar a qualidade do transporte público. Hoje, cerca de 65% da frota de ônibus em São Paulo ainda é montada sobre chassis de caminhão, que acaba com a coluna do passageiro. O correto é o monobloco, com suspensão a ar. Mas isso não basta, é preciso ter ar condicionado. Para fazer o motorista deixar seu carro em casa e usar um ônibus, é preciso oferecer conforto. Também é indispensável ampliar os corredores de ônibus. Temos de ter monotrilho, sim. Mas também táxi barato. Quem já foi para Nova York sabe que a população usa o táxi porque ele é barato. Aqui, poucos podem usar e 65% da frota andar pela cidade ociosa a maior parte do tempo. Podemos subsidiar os táxis, com isenção do ICMS que cabe ao município da gasolina do taxista, por exemplo. E autorização para o compartilhamento do táxi. Vários usuários fazendo o mesmo trajeto no mesmo veículo, a popular lotação.

CC: O senhor acha necessário restringir a circulação de carros por meio de impostos ou pedágios?


CR:
Sou contra taxa, imposto, pedágio, qualquer coisa que vai mexer no bolso do cidadão. É até injusto com as pessoas de menor poder aquisitivo. Se você cria um pedágio urbano, tira de circulação quem tem menos condições financeiras. Quem tiver, vai continuar andando de carro.

CC: O senhor conseguiu apoios importantes de igrejas evangélicas. Outros candidatos também estão recebendo adesões de grupos religiosos. Devemos esperar uma eleição pautada por temas religiosos?


CR:
Eu tenho apoio de igrejas evangélicas, mas também sou católico. A maioria dos brasileiros, antes de ser evangélico ou católico, é cristão, acredita em Jesus Cristo. Não há razão para uma disputa religiosa nem acredito em uma divisão do eleitorado em função disso. Fico feliz de igrejas evangélicas ou setores da Igreja Católica me apoiarem, mas não vou discutir religião nestas eleições.

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