Sociedade

Luiz Carlos Guedes Pinto e a agricultura familiar

Não o conhecia pessoalmente. Seus ensinamentos e atividades, sim. Lembrou-me Ariano Suassuna, em modos, gestual e humor, sinal explícito de inteligência

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Enfurnado, felizmente, por quatro dias na ESALQ/USP, em Piracicaba (SP) tive possibilidade de atualizar meus mais de 40 anos como profissional do agronegócio brasileiro, em todas extensões e intenções. Contradições que podem ser estonteantes ou decepcionantes, mas sempre como vocação primeira do país, na falta de outras. Estive no II EsalqShow, que aconteceu nos dias 9 a 11 de outubro.

Dois parêntesis: primeiro, o que recolhi de material serviria a meses de colunas com informações e discussões importantes que selecionarei para comentar com vocês; segundo, o fiz por conta financeira e malandragem próprias, pois apesar de escrever há mais de 20 anos em digitais e impressas, não sou considerado “imprensa”, o que dificulta acesso a entrevistas, depoimentos e entrada em certos eventos.

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O que fiz? Simples, comprei espaço para um estande da minha empresa, fui “imprensa” e assim pude me declarar. Para surpresa, soube ser bastante lido e respeitado, embora nem sempre convergente ao conservadorismo da comunidade agronômica e do agronegócio.

No evento e para a minha felicidade progressista-social a exceção foi o professor Luiz Carlos Guedes Pinto, a quem agradeço por declarar ser meu leitor como assinante de CartaCapital e do GGN, de Luís Nassif.

Guedes Pinto nasceu em 1942, na Vera Cruz do oeste paulista. Formou-se na ESALQ, em 1965. Três anos de diferença, em nascimento e formação, fizeram entender nossas identidades de posições.

Daí foi aos doutorado, livre-docência, Prêmio Jabuti, presidente da CONAB e membro do BNDES para economia agrícola, acabou nomeado ministro da Agricultura, sucedendo Roberto Rodrigues, outro amigo e pensador do ambiente agro, no excepcional 1º ministério do presidente-encarcerado Luiz Inácio Lula da Silva.

Não o conhecia pessoalmente. Seus ensinamentos e atividades, sim. Lembrou-me Ariano Suassuna, em modos, gestual e humor, sinal explícito de inteligência.

Em poucos minutos de exposição no painel sobre agricultura familiar mostrou a heterogeneidade dos perfis dela, não em contraposição, mas em composição à chamada agricultura empresarial, desenhando como tudo É agronegócio, tema mais do que repisado em minhas colunas.

Foi brilhante e provocativo quando especificou os perfis de renda e a área ocupada pelos dois segmentos na agropecuária.

Por outro lado, o que percebi no Salão Nobre das palestras, muitas patrocinadas pelo mainstream agrário, Guedes não deve ser visto como a cocada preta do agronegócio federativo, embora em condição de se igualar ou mesmo superar a todos que lá se apresentaram.

Em sua exposição mostrou o tamanho da exclusão dos pequenos produtores familiares nos campos brasileiros, pelo último Censo Agropecuário do IBGE. Ajudei-o adicionando ser esse um processo em deterioração com o passar das décadas e que certo futuro político só fará piorar.

Agradeceu e cumprimentou-me. Acreditei e externei minhas gratidões reconhecimentos à ESALQ, mesmo quando seus luminares negam a importância da agricultura familiar.

A agricultura do Salão Nobre está no estágio 4.0 e para alguns a caminho do 5.0.

Volto ao assunto e, creio, desta vez não mudarei de ideia. Só entranhei um fato: embora ambos tenham sido ministros, por que Guedes é tratado como professor e Roberto como ministro? Lembrando que Lula foi quem permitiu tal dignificação a um e outro. Talvez, Guedes, em sua simplicidade não faça questão de honrarias.

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