Mundo

Baixaria no Partido Republicano

A disputa descamba para a misoginia e ataca as esposas dos pré-candidatos

Apoie Siga-nos no

Até a última primária em 7 de junho, o clima de briga de foice no Partido Republicano deve piorar. O último lance foi a divulgação por um fundo de campanha pró-Ted Cruz de uma foto nua da esposa de Donald Trump, publicada na revista GQ britânica em 2000, quando ela trabalhava como modelo.

A campanha, dirigida ao notoriamente moralista público mórmon de Utah, dizia: “conheça Melania Trump, sua próxima primeira-dama. Ou apoie Ted Cruz na terça-feira (22 de março)”.

Trump ficou indignado com toda a razão, mas sua reação, assim como aquela às insinuações de Marco Rubio sobre as dimensões de seus atributos físicos, foi no sentido de manter a campanha no mais baixo nível possível: “Cuidado, Ted Mentiroso, ou eu abro o bico sobre sua esposa”, respondeu no Twitter.

Heidi Cruz teve um episódio de depressão no qual abandonou o carro à margem de uma via expressa e ficou sentada na grama, com a cabeça entre as mãos, até um policial vir socorrê-la. O que, igualmente, nada tem a ver com os temas da campanha. Aludir a isso é apenas mais um sinal da extrema decadência do discurso político.

Segundo estimativa do site de estatística FiveThirtyEight na véspera das primárias de 22 de março, Donald Trump deveria atingir 1.208 delegados até o fim da campanha, 98% dos 1.237 necessários para assegurar a maioria na convenção republicana.

Na realidade, teve resultados um pouco abaixo dos esperados: venceu no Arizona, onde levou todos os 58 representantes disponíveis, mas seu estilo histriônico foi rejeitado pelos mórmons do Utah, onde a vitória esmagadora de Ted Cruz lhe deu todos os 40 delegados (esperava-se que Trump conseguisse 4) e também teve menos apoio que o esperado em Samoa, onde dividiu com o rival os dois delegados que se esperava que ganhasse.

Com o acréscimo de 59 mandatários, Trump chegou a um total de 739. Falta atribuir 865, dos quais mais provavelmente obterá 449 e chegará a um total de 1.203, deixando 356 aos dois rivais remanescentes: Cruz, com 465 e Kasich, com 143 e nenhuma expectativa de vitórias significativas além daquela já contabilizada em seu estado de origem, Ohio.

Tudo indica que Kasich foi rifado pelos colegas moderados da máquina partidária republicana, pois Jeb Bush, o ex-candidato mais próximo de seu perfil, decidiu apoiar Cruz, como já tinham feito Lindsey Graham e Carly Fiorina, da vertente mais conservadora do establishment e o conservador evangélico Rick Perry. Trump, por outro lado, recebeu apoio do supostamente moderado Chris Christie e do conservador adventista Ben Carson.

O apoio dos Bush a Cruz mostra a disposição da velha guarda republicana de ir a extremos para deter Trump, pois o ultraconservador evangélico Cruz, favorito do Tea Party, está tão distante quanto possível de suas posições dentro do partido.

É difícil imaginar, porém, que Cruz consiga muito mais do que 700 delegados ante os prováveis 1.200 de Trump. Se Kasich desistir, seus votos serão provavelmente divididos, o que daria alguns representantes a mais a Cruz, mas arriscaria proporcionar ao rival o pouco que lhe falta para uma vitória absoluta.

Sem esta, seria teoricamente possível articular uma maioria para eleger Cruz ou mesmo uma figura partidária “de consenso” que não participou das primárias, como o presidente da Câmara Paul Ryan. O risco, além dos motins com os quais Trump ameaçou, pode ser a divisão do partido.

Seria um cenário de sonhos para Hillary Clinton, que frente a um Partido Republicano unido em torno de um candidato minimamente razoável – o que não é o caso de Trump, nem de Cruz – estaria em sérios apuros.

Ela é responsável por todos os piores erros do governo Barack Obama em política externa, inclusive os desastres da Líbia, Iêmen e Síria e os golpes de Estado em Honduras e no Paraguai e por nenhum de seus sucessos, praticamente resumidos ao acordo nuclear com o Irã e ao reatamento com Cuba. 

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.