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Mexicanos vivem pesadelo com eleição de Trump

A relação entre o republicano e o México é muito tensa desde o dia em que o magnata anunciou sua intenção de concorrer à Casa Branca.

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Por Jennifer Gonzalez Covarrubias 

Cabisbaixos e silenciosos, os mexicanos receberam na madrugada da quarta-feira 9 a notícia de que viverão acordados no pesadelo de ver Donald Trump dirigindo o país mais poderoso do mundo.

A vitória do candidato republicano deixou milhares de pessoas sem fôlego, e até o peso mexicano entrou em pânico, desabando a mínimos patamares históricos. O governo já prepara uma resposta.

As expressões festivas dos mexicanos que acreditavam na derrota do magnata foram se diluindo conforme as redes de televisão mostravam seu avanço.

“Sinto-me triste, muito triste, a verdade parece um pesadelo, e com muita incerteza sobre o que vai acontecer”, comentou Erick Sauri, um arquiteto de 35 anos que vestia uma camiseta azul com a frase “Hillary Clinton para presidente”.

“Já ganhamos menos do que ganhávamos ontem”, acrescentou em alusão à desvalorização da moeda local.

Como ele, muitos se reuniram para passar a noite eleitoral no restaurante “Pinche Gringo”, uma expressão pejorativa que os mexicanos usam com regularidade para se referir ao protótipo do americano desagradável.

Mas as brincadeiras alegres do início da noite foram dando lugar a silêncios e olhares incrédulos para as televisões que transmitiam os resultados.

“Estou consternada. É incrível que tanta gente tenha votado por uma proposta de ódio. Parece um sonho ruim!”, disse Monserrat Valencia, uma economista de 25 anos que no início do dia eleitoral “estava quase certa de que o anti-imigrantes e sexista Trump não podia ganhar”.

Depois de acompanhar com atenção uma campanha de quase 700 dias, marcada pelos escândalos e insultos entre os dois candidatos, Sauri demonstrou sua surpresa com o fato de “o ódio e o racismo” terem triunfado.

“Não consigo acreditar”

A relação entre Trump e o México é muito tensa desde o dia em que o magnata anunciou sua intenção de concorrer à Casa Branca.

Sem papas na língua, disse que, se vencesse, obrigaria o governo mexicano a pagar os custos da construção de um muro em sua fronteira comum para impedir que imigrantes ilegais chegassem aos Estados Unidos.

Trump insistiu em seu projeto ao longo da corrida presidencial e ofendeu os mexicanos ilegais que vivem nos Estados Unidos, chamando-os de criminosos e estupradores.

Em um movimento arriscado, o presidente eleito visitou o México no dia 31 de agosto convidado pelo presidente Enrique Peña Nieto, para abrir o diálogo bilateral. A reunião foi muito criticada.

“Não consigo acreditar que vá vencer, não, não posso acreditar (…) Tenho família nos Estados Unidos e ele nos ameaçou tanto, tanto”, dizia Laura García, de 46 anos, num momento em que a derrota de Hillary já parecia iminente.

A vitória de Trump teve um forte impacto na moeda mexicana, que no fim de setembro teve uma depreciação recorde ao cair a 20,00 pesos por dólar quando o magnata avançava nas pesquisas.

Enquanto o republicano ia consolidando sua vitória, o peso perdeu 9,51% e era cotado a 20,71 por dólar. O governo anunciou que já estava preparando uma reunião de urgência para analisar a situação dos mercados.

O secretário de Fazenda, José Antonio Meade, havia dito que, se Trump vencesse, o governo poderia recorrer à Comissão de Câmbios do Banco do México – seu presidente garantiu às autoridades que está preparado um plano de contingência.

Um dos candidatos na liderança nas pesquisas para as eleições presidenciais do México de 2018, o esquerdista e duas vezes candidato presidencial Andrés Manuel López Obrador, fez um pedido de calma.

“Convoco todos os mexicanos à serenidade, temos que seguir em frente, não vão ocorrer problemas maiores, garanto, porque vamos fazer valer nosso direito à soberania, não importa quem esteja no governo dos Estados Unidos”, disse.

Mas muitos estão em choque. Ao fim do dia eleitoral nos arredores do “Pinche Gringo” uma americana chorava desconsolada, enquanto os mexicanos iam embora em silêncio.

© 1994-2016 Agence France-Presse

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