Mundo

Uma nação em meio à tormenta

A dificuldade pós-eleitoral de definir uma maioria estável leva o presidente a se dizer incapaz de enxergar na névoa

Apoie Siga-nos no

As águas da política italiana continuam muito agitadas. O redemoinho do Senado – onde ao menos duas das três forças principais (PD, PDL, M5S) teriam de se aliar previamente para garantir o chamado “voto de confiança” ao futuro governo – parece engolir qualquer hipótese até agora formulada.

O Partido Democrático, que, em aliança com Esquerda e Liberdade, tem o maior número de deputados e senadores, vive a maior tempestade: deprimido pelo sucesso parcial das urnas, vem sendo dilacerado pelas correntes internas divididas quanto à rota a seguir. Nessa fase, tem se criado unanimidade de fachada em relação à navegação indicada pelo secretário, Pierluigi Bersani, que recusa qualquer possibilidade de colaboração com Berlusconi.

O PD está claramente preocupado em recuperar a credibilidade junto ao eleitorado perdido para o movimento de Beppe Grillo. Bersani, portanto, vem desafiando o M5S a assumir as próprias responsabilidades no plano institucional. A tentativa é atrair Grillo para uma aliança, ao menos temporária, que permita a formação de um governo liderado pelo PD visando realizar reformas radicais, compartilhadas, em tese, pela plataforma do M5S. Trata-se de nova lei eleitoral, de outra sobre o conflito de interesse, de medidas emergenciais de antiausteridade, de um salário mínimo para qualquer cidadão, de uma lei anticorrupção, além de cortes no financiamento público aos partidos.

A possibilidade de realizar em breve período mudanças tão substanciais atrai sem dúvida grande parte do eleitorado 5 estrelas, mas não o líder-patrão, o cômico Beppe Grillo, que até agora replicou negativamente, com o condimento dos habituais insultos teatrais. O argumento é de que o M5S não pode dar voto de confiança a partido algum (“são todos iguais” e “devem ir pra casa”), mas só analisar propostas de lei no Parlamento e eventualmente aprová-las, caso a caso.

Não é esta a posição de Dario Fo, Prêmio Nobel de Literatura e incentivador do M5S. Ótimo intérprete dos humores do movimento, sugere a Grillo colaborar com o PD. Nas últimas horas, Fo formulou a ideia de um governo integrado por grandes personalidades progressistas, externas aos partidos e à política tradicional. Ele acredita que essa formação poderia ter voto de confiança por parte do M5S e do PD. É de se esperar, como às vezes acontece, que o artista enxergue o futuro melhor do que outros. Caso contrário, sempre mais escassas serão as possibilidades de o presidente da República, Giorgio Napolitano, empossar um novo governo. Definido retoricamente o “Farol da República”, o presidente replica que, farol ou luz normal, é muito difícil enxergar na névoa destes tempos.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar