Opinião

Tik Tok nos EUA: ao não conseguir vencer a concorrência, o império a elimina

Não foi a Lava Jato um capítulo (trágico) dessa impossibilidade dos EUA e da oligarquia local de conviverem com a democracia?

Abuso foi identificado em vídeo do Tik Tok. Foto: Pixabay
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“Não há saber mais ou saber menos: há sabedorias diferentes” – Paulo Freire

A notícia de que a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou projeto de lei para proibir o aplicativo chinês Tik Tok no país continua repercutindo em todo o mundo.

O presidente Joe Biden sancionou-a: a empresa terá de ser vendida a companhia americana no prazo de 270 dias.
Para os brasileiros, deveria ficar ainda mais claro que, embora os EUA se apresentem como os paladinos da livre concorrência, na verdade apenas a consideram instrumental, na mesma proporção com que a direita brasileira vê a democracia: útil enquanto serve, podendo ser descartada a qualquer momento, quando deixe de atender seus interesses; assim agiram nos golpes de 1954, 64 e 2016, entre outros.

Não foi a Lava Jato um capítulo (trágico) dessa impossibilidade dos EUA e da oligarquia local de conviverem com a democracia e a livre concorrência?

O império age no melhor estilo quartelão: ao não conseguir vencer a concorrência, elimina-a, literalmente.

De fato, não estavam incomodados (por demais) com a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, pela Petrobras? Não ficaram passados com a vitória da Odebrecht no edital para a construção do Terminal 2 do aeroporto de Miami?

Daí, veio a Lava Jato, a maior operação jurídico/parlamentar/mediática para a destruição da democracia e da economia de um país de que se tinha notícia.

Uma vez arrasada a economia brasileira, os EUA têm de enfrentar uma economia muito mais poderosa, porém – e um regime político igualmente mais sólido, o chinês.

Nesse sentido, os impedimentos à importação de produtos chineses se multiplicam nos EUA.

Os mais recentes e truculentos foram as restrições impostas à importação de carros elétricos, mercado do qual a China já detém 70%, em âmbito internacional.

O candidato da extrema-direita, Donald Trump, declarou que, caso vença as eleições, irá impor tarifa de 100% para a importação de carros elétricos da China.

Na outra ponta, a indústria-símbolo dos EUA, a Boeing, outrora repositória das tecnologias mais avançadas do país, fechou o balanço novamente no vermelho, incapaz de fazer decolar seu modelo de aeronave mais simples, o 737, que apresenta problemas estruturais tão sérios que já ocasionaram mais de um acidente aéreo.

No Brasil, tentando se recuperar do cataclismo que foram os desgovernos Temer e Bolsonaro, as mudanças climáticas impactam de forma determinante, sem demover, porém, o ogronegócio do desmatamento e da aplicação indiscriminada de agrotóxicos (o que faz do País campeão mundial de envenenamento da própria população).

Na Amazônia, secas e insegurança alimentar, causadas pelas estiagens, mas também pelas enchentes que varrem os plantios nas margens dos principais rios da região.

No Sul, chuvas torrenciais, alagando os tabuleiros de arroz irrigado, sem que se tenha ainda previsão de cobertura de sinistro para o caso de alagamentos, fazendo com que alguns agricultores tenham de arcar com até 100% das perdas, em alguns casos.

Pior, o Rio Grande do Sul é responsável por aproximadamente 70% do arroz que se consome no País; sendo esse grão o nosso principal alimento (como o é para o conjunto da humanidade), a conclusão óbvia é que haverá inflação, gerada por aquelas perdas.

Ainda pior, o RS está estagnado há anos, sendo sucessivamente desgovernado pelo MDB e pelo PSDB.

Vale notar que os únicos dois governadores que fizeram o estado crescer foram os que investiram na estrutura do estado: Olívio Dutra e Tarso Genro, ambos do PT.

Tal foi a liquidação daquela unidade da Federação que a possibilidade de recuperação econômica tornou-se dificílima, pois o estado foi espoliado de quase todos os recursos, só lhe restando ser detentor da metade do banco público, o Banrisul. Mais nada; foram-se as empresas públicas de água, luz, armazenamento de safras etc.

Entretanto, no momento em que se abre a Bienal de Veneza, na qual o Brasil está representado pela belíssima e sofisticada arte indígena Tupinambá, convém pensar em como a arte apenas é, sem a pretensão sequer de ser. Como o Deus do Primeiro Testamento, Javé, se autointitulara: “Eu Sou”. Nada mais.

Sempre à espreita do que lhe murmura o Espírito Santo, o Papa Francisco instalou o pavilhão do Vaticano na referida Bienal na prisão feminina da Giudeca (a coincidência do nome mais parece sincronicidade junguiana).

As próprias detentas serão as guias, o que não deixará de lhes modificar a vida, podendo reinseri-las, destarte, na sociedade.

Sobre apenas ser, em Friedrich Engels, uma biografia (editora Boitempo), Gustav Mayer faz uma bela digressão entre as personalidades de Engels e Marx:

Marx sabia que seu amigo conseguia gastar alegremente seu tempo, força e conhecimento com algum capricho passageiro. Tal capacidade lhe era estranha, e ele frequentemente censurava Engels de maneira amigável por botar a perder seus esforços pela humanidade dissipando seus talentos.

Contudo, Engels não era menos dedicado à causa do que Marx: quando os tempos exigiram (como logo aconteceu), ele não deixou de arriscar sua vida pela revolução. Mas era tão intimamente modesto que nunca acreditou que sua presença fosse um fator essencial para criar ou impedir grandes eventos. Tinha excelentes nervos e caráter inquieto, e às vezes se contentava em simplesmente aceitar as coisas como elas vinham. Nunca acreditou que era indispensável. Se estivesse envolvido em um movimento, se tivesse assumido uma tarefa, trabalhava com uma energia impressionante. Mas não era torturado pelo demônio da inquietação que impedia Marx de se render à alegria de experiências que este mundo tem a oferecer. Marx era movido pelo aguilhão afiado da genealidade, Engels vivia sob o domínio mais suave de sua rica humanidade.”

Lembremos que ser não é ter e ter não é ser.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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