Mundo

O que Lula e o primeiro-ministro do Japão discutiram no Palácio do Planalto

Agenda tem convite para viagem, assinatura de acordos e solidariedade com o Rio Grande do Sul

Foto: Ricardo Stuckert / PR
Apoie Siga-nos no

O presidente Lula (PT) recebeu nesta sexta-feira 3 o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, no Palácio do Planalto. É a primeira vez que um chefe do governo japonês visita o Brasil desde 2016.

No encontro, eles firmaram acordos para cooperação em economia verde e transição energética. Alguns dos principais objetivos do Brasil, como estabelecer uma parceria para exportação de carne ao Japão, ficaram em segundo plano.

Em uma coletiva de imprensa, o primeiro-ministro convidou Lula a visitar o Japão em 2025. O petista aceitou.

Antes dos discursos, Lula e Kishida se reuniram para uma agenda reservada, seguida da assinatura de atos. Ao todo, há mais de 30 acordos firmados entre empresas brasileiras e japonesas, ligados, entre outros temas, a comércio e segurança cibernética. 

Um exemplo envolve as parcerias com a comunidade nikkei — descendentes nascidos fora do Japão — na produção e na venda de biomateriais, biocombustíveis e energias renováveis entre a brasileira Suzano e a japonesa Mitsui.

Na reunião, Lula e Kishida trataram ainda sobre segurança, política de desarmamento e reforma da governança internacional, incluindo a Organização das Nações Unidas.

Kishida declarou que continuará a trabalhar pela reforma do Conselho de Segurança da ONU no G-4, aliança formada em 2005 entre Brasil, Japão, Alemanha e Índia. “Vamos trabalhar em conjunto para tomar medidas concretas”, afirmou.

Comércio 

A expectativa era que os presidentes tratassem da exportação de carne brasileira. O Japão importa 70% da carne bovina que consome e, desse total, 80% é fornecido por Estados Unidos e Austrália, de acordo com o Planalto. 

O empecilho para a expansão neste momento passa pelos casos de febre aftosa, uma doença infecciosa que atinge os bovinos. Na quarta-feira 2, porém, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) anunciou que o Brasil está livre do problema.

A expectativa é que o novo cenário abra portas para o comércio com o Japão, pontuou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), ao final da agenda desta sexta. Segundo ele, o acordo de exportação não está fechado, mas avança.

Ao lado do premiê, Lula chegou a comentar sobre a carne brasileira. Em tom de brincadeira, pediu “pelo amor de Deus” que Alckmin leve Kishida para comer churrasco em São Paulo, onde cumprirão agenda no sábado 4.

Kishida deve visitar o Pavilhão Japonês na capital paulista, um espaço construído em 1954 em homenagem aos japoneses.

Diante dos acordos que estão em andamento, Lula também fez um apelo por mais investimentos de empresários japoneses no Brasil

“Nós podemos fazer mais. Quando vocês (empresários) estiverem olhando para o mapa do mundo para fazer investimento, olhem para o Brasil”, declarou.

Lula ressaltou que o País oferece estabilidade jurídica, fiscal e econômica, além de previsibilidade. Por isso, avalia o petista, o governo japonês deveria ter o Brasil como “parceiro preferencial e estratégico”.

“O Brasil não quer que o Japão fique vendo o Brasil como um país menor, como se fosse um país pobre. O Japão tem que enxergar o Brasil do tamanho que ele é”, afirmou. “O Brasil é um país grande, não apenas do ponto de vista territorial, não apenas do ponto de vista fronteiriço, não apenas do ponto de vista das suas florestas, das suas riquezas minerais.”

Em defesa do crescimento do comércio, Lula destacou que a balança comercial entre os dois países chegou a 18 bilhões de dólares no passado, mas hoje é de 11 bilhões. 

“Pensem: ‘vou investir no Brasil porque é lá que o japonês ficou’”, prosseguiu, em referência à comunidade nikkei no Brasil, estimada em mais de dois milhões de pessoas.

O presidente também acredita que a isenção de visto para brasileiros visitarem o Japão deve aumentar a cooperação e o intercâmbio entre os povos.

Menção às enchentes no Rio Grande do Sul 

Durante o pronunciamento, Lula revelou que as primeiras palavras do premiê japonês durante a reunião no Palácio do Planalto foram de solidariedade pelas chuvas no Rio Grande do Sul

“Eu agradeço ao primeiro-ministro. Eu tenho certeza de que no Rio Grande do Sul também mora uma quantidade razoável de descendentes de japoneses.”

Nesta manhã, autoridades confirmaram 37 mortes e o desaparecimento de 74 pessoas em decorrência das chuvas.

“Queria transmitir aos familiares e ao povo gaúcho nossa solidariedade. E dizer ao governador (Eduardo Leite) que o governo federal e seus ministros estão à disposição”, finalizou o presidente. 

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo