Política

Sobre a mentira, o impeachment e o Brexit

A história da humanidade é construída com base em mentiras

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E eis que uma comissão técnica do Senado derrubou o único (e frágil) argumento pelo impeachment de Dilma Rousseff. Não há provas de que Dilma tenha culpa pelas pedaladas fiscais.

E assim fica mais clara a farsa do afastamento da presidente, baseado em uma grande mentira. No outro lado do oceano, no Reino Unido, os eleitores também votaram pelo Brexit embalados por uma série de inverdades, que começam a se tornar cada vez mais claras na ressaca do voto pela saída da União Europeia. 

Na política, mentir como meio para atingir os fins não é novidade. Os gregos deram de “presente” aos troianos um cavalo recheado de soldados. Era para “celebrar a vitória” de Troia, mas foi o símbolo de sua derrota. George W. Bush mentiu sobre Saddam Hussein ter armas de destruição em massa para justificar uma invasão do Iraque por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos. O resto da história todo mundo já sabe.

Mentir para ganhar eleição é um clássico, assim como mentir sobre a inauguração da nova linha do metrô. Sempre dizem que será antes da Copa ou da Olimpíada… só não se diz de qual delas. 

A mentira também pode tomar forma de omissão. Basta lembrar do sincericídio do ex-ministro da Economia, Rubens Ricupero, ao ter sua fala em off ao fim de uma entrevista captada por antenas parabólicas em 1994. “Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”. Teve de ser demitido na sequência pelo então presidente Itamar Franco. Não por mentir, mas por expor a mentira.

No Brasil, os líderes que puxavam o coro do impeachment mentiram fastidiosamente sobre querer limpar a política da corrupção. Os áudios mostrando os grão-caciques do PMDB apavorados e dizendo que precisavam afastar Dilma o quanto antes para se livrarem das investigações da Lava Jato só provou que diziam uma grande mentira.

Queriam mesmo era botar a sujeira debaixo do tapete. Inocente (ou oportunista) foi quem “acreditou” em gente como Eduardo Cunha, Romero Jucá e companhia.

No Reino Unido, os líderes da campanha do impeachment mentiram dia e noite sobre o país ser inundado por imigrantes turcos, já que a Turquia é uma eterna candidata a entrar na União Europeia (algo com chances remotas de acontecer).

Mentiram a respeito de o povo ter de volta o poder decisório sobre os rumos do país, como se cidadãos comuns tivessem mais acesso às decisões tomadas pelos burocratas de Londres do que pelos de Bruxelas. 

Impulsionados pelo ódio nas redes sociais, pelo populismo de líderes oportunistas que só pensam, a qualquer custo, em qual é o jeito mais rápido de se tornar presidente (alô Aécio, alô Temer) ou primeiro-ministro (hello Boris Johnson), o povo comprou a mentira, sem saber das consequências.

No Brasil, grande parte dos verde-amarelos sequer sabia quem era Michel Temer. No “educado” Reino Unido, uma dos assuntos mais pesquisados no Google na ressaca do Brexit foi: “O que significa a União Europeia?”. 

A única diferença entre o impeachment e o Brexit é que no Reino Unido foi dada ao povo a decisão de sair da União Europeia. No Brasil, usaram a mentira para rasgar a Constituição e aplicar um golpe parlamentar.

E de mentira em mentira se constrói a história da humanidade. Nos Estados Unidos, Donald Trump mente sobre construir um muro para barrar os mexicanos, sobre deportar os muçulmanos e sobre “fazer a América grande mais uma fez”.

Nos últimos meses eu acreditei em minha própria mentira de que o impeachment não iria acontecer, que o Brexit nunca iria passar e que Trump jamais seria presidente (será mesmo?). Dolorosamente, estou tentando lidar com as verdades.

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