Economia

Após virar ministro, Meirelles recebeu 50 milhões no exterior, diz site

De acordo com reportagem do BuzzFeed, ele também recebeu 167 milhões pouco antes de assumir. Recursos vieram de clientes como a J&F, de Joesley Batista

Consultoria de Meirelles enviou para contas do ministro mais de 200 milhões de reais em quatro meses
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Três meses antes de assumir o mais alto posto da economia brasileira, Henrique Meirelles recebeu 167 milhões de reais em contas que mantinha no exterior e que foram usadas para pagamentos por serviços prestados por sua empresa de consultoria, a HM&A. Entre os grandes clientes está a J&F, de Joesley Batista. Após quatro meses no cargo de ministro da Fazenda, foram mais 50 milhões de reais depositados nas contas no exterior.

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As informações constam de documentos públicos produzidos pela própria empresa de Meirelles, registrados na Junta Comercial de São Paulo e divulgados em reportagem pelo BuzzFeed. Apesar de ter os montantes fora do país quando era consultor, Meirelles, agora ministro, disse em nota que “confia integralmente nas instituições financeiras brasileiras e aconselha investidores a deixar seus recursos no Brasil porque o país oferece melhores relações de risco/retorno”. Agora os valores estão num fundo de investimento mantido no Brasil.

O ministro afirmou ainda que os pagamentos foram feitos fora do país porque seus contratantes eram empresas globais. Disse, ainda, que os R$ 167 milhões referem-se a serviços prestados nos últimos anos, mas só pagos em 2015, com valores compatíveis ao do mercado.

Os valores são compatíveis também com contrato que manteve por quase quatro anos com a holding J&F, de 40 milhões por ano. Entre os clientes da consultoria de Meirelles estão também as instituições financeiras norte-americanas Lazard e KKR. Procurado pela reportagem do BuzzFeed, o ministro não detalhou quanto recebeu de cada um dos contratantes.

Ainda de acordo com a reportagem do BuzzFeed, as movimentações milionárias do ministro da Fazenda começam em 1º de fevereiro de 2016. Naquele momento, o processo de impeachment contra Dilma Rousseff já avançava e não era segredo para ninguém que Henrique Meirelles era o favorito para assumir o Ministério da Fazenda, caso Michel Temer virasse presidente.

Naquele dia, às 17h, uma reunião na empresa de Meirelles, no edifício Bachianas, na região de Alto de Pinheiros, área nobre de São Paulo, tratou da distribuição dos lucros de 2015. A economia do país teve uma forte queda em 2015, mas para Meirelles foi um período de prosperidade: lucro de R$ 215 milhões. Desse montante, Henrique Meirelles decidiu pegar para si R$ 167 milhões.

No dia 11 de maio o Senado começava a sessão que varou a madrugada e selou o afastamento de Dilma Rousseff da presidência. Naquele mesmo dia, Henrique Meirelles renunciou ao cargo de presidente da sua empresa de consultoria. No dia seguinte, seu nome foi anunciado como novo ministro da Fazenda. E continuou como sócio da empresa, embora afastado da presidência da firma.

Já no governo, Meirelles fez uma nova distribuição de lucros, em 12 de setembro de 2016, quando ocupava a pasta há quatro meses. Advogados de Meirelles se reuniram e, por procuração, definiram que fariam um balanço parcial da movimentação financeira da empresa em 2016, até 30 de abril. Era justamente o mês que antecedeu à posse na Fazenda.

O valor do lucro de apenas quatro meses do ano de 2016 foi de R$ 50 milhões. Nesse caso, a distribuição foi por meio da transferência para Meirelles da custódia de cotas da sua empresa no fundo de investimento cujo nome completo atual é Sagres Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado Investimento no Exterior.

O fundo era administrado pelo banco Citibank e atualmente é pelo Bradesco. A posição de Meirelles nesse fundo é relevante. Segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), eram apenas três cotistas naquele mês_ duas pessoas jurídicas e uma pessoa física, que possuía 68% do patrimônio. O fundo, aliás, tinha como patrimônio líquido R$ 77 milhões em setembro de 2016.

Mercado financeiro

Meirelles é, por origem, um profissional do mercado, mas participa da vida pública, em postos de destaque, há mais de uma década. Há um ano é o braço forte da economia do governo Michel Temer (PMDB) e já teve função fundamental em manter a macroeconomia nos eixos durante os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no comando do Banco Central de 2003 a 2010. Mas, antes disso, construiu uma sólida carreira internacional na área financeira, no BankBoston, onde em 28 anos de trabalho chegou à presidência global do banco.

Meirelles voltou ao mundo corporativo neste intervalo e assumiu, de 2012 a 2016, a presidência do conselho consultivo da J&F, a holding que reúne as empresas dos irmãos Wesley e Joesley Batista, entre elas a JBS, no olho do furacão do mais recente escândalo da política brasileira, desencadeado na Operação Patmos

Após deixar o Banco Central e cumprir um ano de quarentena não faltaram opções. Segundo o noticiário da época, no início de 2012 Meirelles recebeu pelo menos 12 ofertas de emprego do setor privado, dentre elas a presidência dos bancos Barclays e Goldman Sachs no Brasil.

Optou pelo posto na J&F com a missão de profissionalizar a companhia, criando mecanismos de tomada de decisão mais independentes, a exemplo do que já haviam feito outras grandes empresas familiares, como Natura e Gerdau. “O Meirelles não vai ser apenas um consultor. Vai cobrar resultados dos executivos e traçar estratégias para a expansão do negócio”, disse Joesley à imprensa na época. A ideia era a abertura do capital da holding.

 

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